[Você pode ler este texto ao som de Nada Por Mim]
Hoje me deu uma vontade de sussurrar torturas nos teus ouvidos e esperar alguma reação tua. Espero, passo os dias esperando, que você nunca mais saia inerte de mim. Saia marcado por uma sensação boa que pode ser prazer ou afeto contente, numa coisa saudosa que não precisa buscar satisfação no passado (porque eu tô bem aqui).
“Te mandarei flores amanhã”. Será que meu porteiro vai fuxicar o cartão e se deparar confuso com um remetente masculino prum destinatário igualmente masculino? Eu filmaria a cena pra te arrancar uma risada gutural que combina bem com esse tamanho todo. Deixe que te envio flores noutro dia pra compensar a solidão da hora do trabalho, já que você fica sozinho, nessa relação homem-máquina estranha por 40h/semana. Me manda flores também e me deseja, vai. Me deseja de todas as maneiras, mas me deseja com afeto. Me deseja um bom dia e me tira os dentes da boca, me tira dessa sombra que me esconde quando bate a tristeza e a falta de você, rapaz.
Prometo diante de uma entidade desconhecida que isso é amor. É amor na barba, amor nos calos da mão, amor espelhado nos olhos que reprovam e eu nem ligo. Nem ligo porque sou teu porto e teu porre. Tua estrutura elástica que se adapta, feito camaleão, no contraste da tua pele. Tão amor-liquidificador que eu não saio inerte de você, nada sai inerte ou estável dessa minha vontade imensa de te fazer feliz. E tu lembra que já me mandou embora tantas vezes que a tua porta já tem as marcas de batida da minha mão. “Vai embora porque você me tem fácil demais”. Tua cama é moldada a mim, mas você tinha um medo descarado de se sentar à mesa com outro homem. Passou, como tudo passa um dia. Passou por mim e eu disse olá.
E nessa vontade que hoje me bateu, arrebatadora, de te dizer essas coisas todas, eu me lembrei de como eu também sou tão seu. Tão teu nos detalhes cotidianos que se a gente não parar a vida pra olhar devagar, vai parecer que a gente já tava grudado num berçário da vida. Já jogava futebol junto e ouvia um rock-não-tão-pesado-porque-eu-não-gosto-disso. “Será que a gente pode ir pra outro lugar?”. A gente foi e o tempo existe, e também as coisas mudam, você me diz. As coisas mudam e será mesmo que a gente mudou? Será que teve numerologia, tarot, astrologia, runas ou todas essas coisas de sorte que formataram a gente nesse futuro-presente que já passou? Será que teu amor e o meu eram predestinados, mesmo que a gente nunca acreditasse nisso? Balanço a cabeça e afirmo, conduzindo-te num passo de dança enquanto mostro a minha vida. Te faço sala, você é meu quarto. Meu diário-trancado-de-confissões que exprime e pede silenciosamente que seja cuidado, enquanto vulnerável.
Não faz assim, porque cócegas me tiram do sério e eu sou mais forte que você. Dos deuses da mitologia, sou uma mistura de Áries com Dionísio, e você é um Apolo-com-um-quê-de-Narciso, sem ter intenção nenhuma de ser Deus. Mundano, você acredita nas coisas todas daqui, da gente e o nosso amor se encontra em Vênus, prazer. Talvez a gente combine, talvez seja tudo um discurso inflamado pra te dizer que o importante é que as coisas mudam, sim, e a gente pode mudar um dia. E te peço pra não me mandar mais embora por medo, por isso te mando flores e um cartão confessando que eu continuo, sempre, sendo teu.
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