[Você pode e deve ler este texto ao som de “The Way I Am” pela Caroline Pennel]
Tava aqui hoje mexendo numas coisas e achei umas fotos nossas num álbum de aniversário que você me deu. Tanta história contada em páginas criadas por você num tanto de tempo atrás que parece que já passou foi muito tempo. Bateu saudade gostosa, sabe? Nada daquela saudade possessiva ou que clama pra entrar numa máquina do tempo e bater na tua porta feito a primeira vez.
Você tá sendo uma lembrança boa de alguém que foi muito importante pra mim. De um amor que foi amor, sim, mas acabou. Acabou e eu te guardo com carinho nos traços, nos quartos, no jeito de rir que eu peguei de você. Te guardo nas formas de redecorar as folhas de caderno, de olhar as vitrines da loja e de sair das mesmices. Cê me tirava da monotonia de um jeito fácil demais, e eu nem desconfiava que era planejado. Também não dava pra suspeitar porque olha, se tem um coisa que me faz falta, é aquele sorriso espaçado com uma brecha entre os dentes do qual eu tanto debochava. Debochava de você sem confessar que eu bancava o bobo pra te ver feliz.
Você foi aquela minha história bonita que eu vou contar pra todo mundo. Vou lembrar do teu nome no meio da noite e te ligar, se não for incômodo, pra bater um papo e brincar de reaquecer o passado no forno. Mas sem aquele desespero de querer de volta ou de escrever recaídas tortas na portaria do teu prédio. Só sinto mesmo um gostinho de doce na boca quando abro as vogais do teu nome e faz bem adoçar a língua com as memórias boas de você.
Cê sabe que eu ainda guardo tudo que foi da gente? Guardo com afeto e sem ressentimento. Nosso amor-superado bate à porta como um velho amigo e eu me preocupo tanto com você ainda que no fim do dia eu me pergunto se você tá feliz. Tá feliz? Se não tiver me liga e vem pegar uma praia comigo que eu te coloco nos eixos e te lembro que ainda vai aparecer alguém pra te lembrar, pra justificar o porquê de você não ter dado certo com ninguém até agora. Me liga e vem tomar uma cerveja comigo pra gente trocar umas confissões como dois melhores amigos, mesmo que isso alimente receios dos outros que insistem em dizer pra gente que o nosso problema é ter deixado ponta solta no fim da história. Bobagem deles. No meio das confissões e dos nossos trôpegos segredos, a gente já deixou claro um ponto final ali no meio. O que a gente sente pelo outro é carinho agora.
E eu acho tanta graça quando a gente percebe que num mundo como esse ainda tem gente que não sente essa saudade boa do passado. Essa coisa gostosa de respirar aquele ar gelado e se lembrar do mar. É tipo isso que eu sinto quanto lembro do teu nome às 6 da tarde enquanto saio do trabalho. Me faz um bem danado te encontrar de meses em meses mesmo que a gente não tenha trocado uma palavra nesse meio tempo. Porque eu reconheço que tem tanto de ti em mim e tanto da gente escrito por aí que deixar de te levar comigo seria o mesmo que dispensar as coisas todas (boas, ruins e indiferentes) que a gente aprendeu junto.
Por isso é que eu te convido no meio da madrugada pra jogar um ping-pong à beira-mar. Pra bater lá na casa de uns amigos nossos e chegar de surpresa – e causar espanto em todo mundo que tiver por lá. Por isso que eu me preocupo de vez em quando e apareço perguntando se você tá bem. Eu espero que esteja, sempre. Por isso que me pergunto a quantas andam tuas viagens por Saturno, Netuno, Plutão, e se você precisa de ajuda pra voltar pra Terra. Se tiver pendendo no espaço e te faltar oxigênio, me chama por aí que eu apareço pra realinhar os teus planetas. Porque eu tenho a certeza de que a gente pode não ter sido o caminho certo, mas o nosso passado-guardado fez da gente bússola um do outro.