Sinuca


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[Você pode ler este texto ao som de All My Love – Led Zeppelin]

Ela e sua tendência de se achar no desequilíbrio. De se achar na bipolaridade de sua mente e de sua alma. De se achar à beira do precipício da monotonia clamante por renovação dos dias. De se achar na imersão súbita dos livros e das canções que escancaram o ser. De se achar abrindo as portas da mente contemplativa, que deixam a visão perdida e só a fazem divagar sem rumo nos porquês. De se achar no espectro de um espelho embaçado. De se achar nos reflexos de uma colher só porque são invertidos. Ela vai se achando em suas dúvidas. Se encontrando nos detalhes e se descobrindo nas filosofias.

Percebi também que ela não se acha em futilidades e frivolidades. Muito menos se acha em atitudes que maltratem os outros. Não se acha no se achar para se promover. Ela definitivamente não se acha em auto-promoções. Não se acha em tentativas forçadas dos outros para prenderem-na em seus braços e debaixo de suas asas, já que ela sempre diz: me acho livre e é a liberdade que vai me conter no que acredito ser certo.

Pela timidez, pessoas como ela escolheram se esconder em si mesmas, ser uma imensidão onde aparentemente não há possibilidade alguma.

Pensei que ela continuaria o assunto. Pensei que, assim como eu, ela entenderia que poderíamos ser inconstantes juntos. Mas a verdade é que ela sempre soube que a minha inconstância as vezes era um tanto quanto falsa, nela se revelava uma certa tranquilidade e serenidade, uma certa falta de turbulências. Enquanto ela… Bom, ela era inconstante porque era. Ela até queria ser a calmaria, queria ter a calmaria, mas não conseguia. Mudava demais de aspiração.

Ela é perfeitamente conturbada para mim. Parecida em uma medida extravagante com os meus próprios devaneios. É difícil aceitar. Eu que sempre acreditei que precisava de tranquilidade no amor, só consigo viver complicações. Vivo e quero tê-la, a melhor complicação que me prende e me escapa aos dedos.

Mas ela também tem cara de decepção. E de realização. Ela é tudo. Com uma grande chance de ser outra vez o nada.

Eu sei. A sua boca silenciada passa longe de ser acompanhada por uma mente silenciada. Há um mundo inteiro dentro dela. Um mundo inteiro e intransponível por pessoas sem sensibilidade.

Ah… E quanto mais desconecto soa, mais parecido com ela é. E outro dia ela me disse: Pessoas conexas se atrapalham com o que não está ligado por pontos fixos. E quando eu a olhava, lá estava ela, de pernas cruzadas e olhos focados sabe-se Deus onde, e não existiam pistas aparentes que direcionassem por onde seus pensamentos flutuavam.

Gostaria que ela também se achasse em meus braços e abraços. Mas ela também me disse que meu coração voava mais do que o dela, que ele era mais racional do que aparentava e que daqui a dois meses eu estaria escrevendo sobre outra pessoa. Sinuca.

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