Pra não dizer que não falei do novo.


[audio http://dl.dropbox.com/u/104739227/Radiohead%20-%20Just%20-%20from%20YouTube%20by%20Offliberty.mp3 |titles=”Just – Radiohead”]

–      Eu vi o que você fez ao final daquele livro…

–      Que bom que leu.

–      Vi o que tem feito a você mesma, também. Tentando se punir. Como se a culpa fosse sua. Como se houvesse culpa alguma…

Ela o interrompe – Como se fosse de saudade.

–      E é? Você não sente saudade.

–      Não sentia.

–      E por que haveria de sentir agora?

–      Por causa da linha do queixo.

Ele não entende. (Nunca entendia.)

Ela percebe. (Sempre percebia.)

–      A linha do seu queixo. Sua linha do queixo… E como você me tira da linha. E o encaixe da sua perna e a dobrinha do joelho e a cicatriz perto do umbigo como se fosse uma seta…

Ele a interrompe – Você também se encaixava…

–      Mas alguma coisa não.

–      Deve ter sido o livro.

–      O livro todo ou o final dele?

–      O final veio depois da história já ter acabado. Acho que foi o livro. É, foi ele, sim. As palavras e as frases grandes e a noite fria e a cama vazia e pouco verso e pouca rima e a hora marcada…

–      … Pra te ver partir – mais uma interrupção – Já estava agendada a sua partida. Desde o primeiro parágrafo.

Ele a encara. Pensa. As palavras dela sempre o foram incompreensíveis.

–      Não concordei com o final. – Ela não diz nada, ele continua – Terminou sem beijo.

 

Houve um barulho e, se houvesse alguém ali, naquela hora, diria que era um trovão.

Ela acorda. Não há presença, não há diálogo.

Há livro. As palavras e as frases grandes e a noite fria e a cama vazia e pouco verso e pouca rima e a hora marcada…

… De ligar e dizer o que não disse pessoalmente. (Nem no sonho.)

Mas não liga. Não diz. Não muda o final do livro.

Dia desses encontraram-se perto da praça da estação.

–      Eu vi o que você fez ao final daquele livro…

–      Que bom que leu.

–      Ficou bacana.

–      Obrigada. Tenha um bom dia.

–      Bom dia.

 

Talvez seja o amor grito e volta.

Talvez o amor seja partida…

… E silêncio.

E revolta.

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Carol gosta do pôr do sol e de flor no cabelo.

No Twitter atende por @carolinafava e não faz muito sentido. Já diria Quintana que quem faz sentido é soldado…

Para ler mais dessa jovem autora – responsável por esse texto – basta acessar o blog dela.

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