É que a tua voz é calma, então sobra espaço e silêncio quando você fala. A timidez sorri nos olhos e o prazer é todo meu, moça. Mãos suadas e um trago, mas você tem alergia ao meu cigarro e me escapa. Quase pulo da sacada pra te alcançar lá embaixo e vou de escada de incêndio pra chegar mais rápido. Sem flor nenhuma, mas eu arrisco e te estendo a mão. A timidez sorri nos lábios agora, e eu te acho tão bonita. Você diz que prefere amanhã e o meu domingo já começa bem. De camiseta ou vestido, eu sei que você vai estar lá assobiando, grudada a algum livro que eu nunca li e com fones discretos no ouvido. E eu assobio também. Você tira um sarro da minha cara porque eu musiquei você num chiado, e o agudo não te agrada tanto. Nada grave. É que a tua voz é d’alma, então enche o espaço e o silêncio em mim. Você me dissipa até de olhos fechados, num toque quente de lábios. E eu, que pra ninguém já fui calmo, estremeço do alto até a ponta dos pés. E as bochechas se enchem de rubor no lugar do beijo. E a timidez me entrega num sorriso. Você debocha do meu causo e diz que é minha culpa de musicar você pela metade. Num parque. Num dia de domingo.
E então eu largo a sua mão de lado e
Subo num banco e toco o assobio.
Imagino uma harpa e um bandolim
E combino o som dos dois num único fio.
Vou correndo pelos cantos,
Esbarrando nas mães e nas crianças
E provocando em você risos.
Que é pra mostrar que o seu encanto
– Não, nada de pranto –
Se esconde em mim como um pequeno menino.
E eu musico uma letrinha
Daquelas bem miudinhas
Sem intenção de rima, métrica ou arrepio.
Que é pra botar teu nome e
Tocar teu interfone e te chamar de abrigo.
Que é pra deixar num banco,
Num versinho ou num livro
Você e eu novamente
Num parque. Num dia de domingo.