Não. Não significa que você a ama só porque você sofre por ela. Essa ideia masoquista e bastante comum de que sofrer por alguém representa um tipo de amor visceral e intenso é tão antiga quanto o romantismo que endeusava suas musas e pregava o sofrimento masculino. Isso vem do fato de que a gente costuma procurar justificar o sentimento de amor por uma série de coisas que sentimentos – ciúmes, insegurança, frio na barriga, medo de perder – e outras coisas. A verdade é que ninguém nunca conseguiu definir o tal do amor e daí a gente se acostumou a utilizar outros sentimentos para sinalizar se o que sentimos é isso. Mas não é.
É difícil obter a plena consciência de que se escolhe sofrer por amor. Sempre associamos a ideia de amar alguém à ideia de sofrer por essa pessoa. O sofrimento se mostra como um meio de provar que é verdadeiro; de provar que não é mero capricho. A cada pontada de angústia, um sorriso se abre dentro de você, indicando que você está indo pelo caminho certo. E aposto que você, caro leitor, já se identificou com isso. Sofrer é só uma maneira de virar pras pessoas e dizer “Tá vendo? Isso que eu sinto é dor. É profundo, é bonito, me faz sentir apertos no peito e comprova que não é algo superficial. Porque eu sinto”. É que a gente, na iminência de sentir algo, acaba optando por qualquer coisa que seja tão forte quanto a descrição de amor que a gente viu por aí.
Não. Não é porque você sente falta e chora trancada no seu quarto que é amor. É só a sua forma de lidar com perdas e términos. O amor bom pode não ser tão facinho assim como diria o Ivan Martins, mas ele faz bem. Quando a relação (ou a ideia de relação) costuma fazer mal aos hábitos cotidianos, costuma atrapalhar na execução de tudo o que você faz e passa a te afastar das pessoas com quem você convive, ela se mostra claramente ruim. O sofrimento proveniente dela não vem como um atestado de que isso é amor e de que você deve viver isso intensamente de todos os modos. Não, isso é uma espécie de obsessão que pode ser particular (se vier apenas de você) ou compartilhada (quando vocês dois se encontram num tipo de relação auto-destrutiva e justificam as mágoas mútuas com o amor).
Sofrer demais nunca foi e nunca será atestado de amor. Não se justifica um sentimento (ou a falta dele) por outro. É o mesmo que saciar a vontade de comer maçãs ao comer uvas. São necessidades diferentes e sentimentos que não possuem ligação direta. Em tempo, esse tipo de fixação por pessoas que nos façam sofrer é um mal que se desenvolve por engano. O engano de sentir a tal dor de uma relação furada e achar que isso indica algo. Afinal, você não sofreria à toa por alguém que não desperte algum sentimento em você, não é mesmo? Sofreria. Porque é justamente com esse pensamento que se justifica o eterno ciclo do “estou apaixonado porque sofro por ela”. Então, da próxima vez em que estiver sofrendo demais, pergunte a si mesmo se isso não é só um indício de que as coisas vão mal na relação, ou então um indício de que você gosta de sentir algo só para provar que sente. E, como disseram uma vez por aí: só se morre de amor no cinema.
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