[Você pode ler este texto ao som de “Você vai lembrar de mim”]
Parece que foi há tempos atrás. Em uma época que remetia às aventuras dos mais destemidos heróis da Idade Média e aos romances noir em preto e branco. Aliás, acho que aqueles filmes tinham um quê de mais reais do que os coloridos de hoje em dia. O preto e branco transmitia um sentimento mais verdadeiro. Trágico, profundo, complexo. Tudo preto no branco. Mas não foi há tanto tempo assim. As fotos não me deixam mentir. O teu cheiro na minha camisa não me deixa esquecer. Até as meninas bonitas com milhares de sorrisos movidas a batidas melódicas nas festas me lembram você.
Aquele relógio de pulso que você me deu no meu aniversário não parou. Curioso. Achei que os ponteiros parariam no exato momento em que você dissesse adeus. Nem as estações congelaram, nem a gravidade cedeu, nem a programação ridícula da Tv aberta fez concessão ao meu sentimento. Estático, sem reação, sem saber o que fazer da vida estou eu. Porque na verdade ninguém se importa. Ninguém sabe mais que eu o que eu estou sentindo. Sabe, você foi a mais bela esperança que eu já tive em meus braços. Você foi, para mim, a resposta de que vale a pena amar alguém tão diferente de você. Você foi. E não volta mais.
Eu nem me dei o trabalho de empacotar as coisas, de retirar tudo o que é seu da minha vida. Eu tentei reagir da melhor maneira possível. Funcionou um pouco, sabia? Mas é que toda vez que eu fico em silêncio, meu coração dispara. Toda vez que eu fecho os olhos, a única imagem que me aparece é você. Eu vou sentir a sua falta. Isso eu nem preciso frisar. As minhas palavras caem no papel com o peso de um milhão de silêncios. Crueldade é que a gente está conectado de todas as formas possíveis, com exceção da única forma que me faria feliz agora. Sabe, eu ouvi dizer por aí que você desatou o nosso nó. Ouvi dizer por aí que eu me perdi e não consegui voltar. Ouvi dizer por aí que a gente se enganou. De verdade? Transformo tudo em pequenos grãos de areia que são tão irrelevantes perto da grandiosidade do que a gente foi.
Esse quarto tá uma bagunça. O pior é que eu tenho plena convicção de que eu corro um grave risco se tentar arrumá-lo. É uma daquelas faxinas que colocam o que restou do amor em caixas, retira as fotografias dos porta-retratos, apaga os bilhetes gravados na parede e todo tipo de coisa. O risco é guardar isso tudo pra nunca mais encontrar. Síndrome de Faxineira, sabe? Eu me encontro nessa bagunça que anda o meu coração. E me pergunto por onde você anda, com quem você tem estado, se é verdade o que você diz por aí. Me pergunto se você também tem tentado esconder tudo por trás da máscara de inconseqüência ou se realmente está tudo bem. Confesso que saber que está tudo bem me parece ultrajante: é como se você nunca tivesse sofrido essa dor de amor. Eu espero que você esteja lembrando. Que você se lembre de mim. Pelo menos que o meu nome não tenha sido apagado da tua agenda com tanta facilidade. Pode até esquecer o nome, mas guarda o endereço, por favor.
Bom, vou continuar então a fazer o que eu estava fazendo. Vou continuar a fazer nada por nada e continuar me sentindo nessa mistura de nada com coisa alguma. Tenho fé nas coisas do mundo, tenho fé no clichê do tempo. E falando em clichês, eu acabo de contrariar um dos grandes clichês da humanidade: homem chora sim.