Não é de hoje e nem de tempos recentes que o mito do príncipe encantado existe na cultura feminina. Essa figura que remete à perfeição e concentra todos os desejos femininos de bom partido é utilizada massivamente em todo lugar. Eles são mostrados em desenhos infantis, em filmes fantasiosos, em versões modernas da literatura, em canções esperançosas e em um sem número de lugares e ocasiões que chega a ser chato ficar listando. Não teria nada demais na utilização desse artifício fantasioso se ele não fosse o responsável por milhares de problemas contidos em relacionamentos atuais.
Sinceramente, meninas, me digam: vocês já sonharam/pensaram/falaram sobre querer encontrar o tal do príncipe encantado? E a resposta será afirmativa em 100% dos casos. A premissa de um homem encantador que virá busca-las de cavalo branco e que as tratará como princesas é realmente algo bastante vantajoso, não é? Não, não é. Se vocês soubessem como vocês criam resistências e limitações ao alimentar este tipo de fantasia, mesmo que adaptando o conceito aos tempos de hoje, talvez tivessem noção de que o mito inocente do tal príncipe nos leva a problemas deploráveis.
Enquanto houver o mito do homem perfeito, todos nós seremos sempre alvo de comparação. Seja com o príncipe Eric ou com o da Bela Adormecida, vocês sempre comprarão as atitudes deles ao invés das nossas. Seremos sempre comparados a caras que acordavam princesas sonolentas com um beijo e caras que as resgatavam de torres guardadas por dragões. Sim, sempre seremos menos do que aquilo que vocês sempre sonharam. E eu digo o porquê: a perfeição, tal qual vocês pensam, não existe. Nós somos apenas seres humanos dispostos a abrir mão de algumas coisas, ceder outras tantas, criar umas outras porque gostamos de vocês de verdade. A gente pode não ter um corpo escultural, uma espada e um escuda, um cavalo branco de raça ou um castelo descomunal para onde levaremos vocês. Essas expectativas são claramente frustradas pela realidade.
O problema é que eu vejo muito por aí isso de que “esquece dele, você merece um príncipe encantado” ou “meu príncipe encantado um dia vai chegar”. E talvez essas frases sejam o grande motivo pelo qual as resoluções amorosas das mulheres não dão certo. Porque não se pode exigir a perfeição de quem não a detém. E daí vocês esperam, criam expectativas, comparam, almejam tanto um ser místico que não admitem a existência de falhas nas nossas atitudes e comportamentos. Algumas até já deixaram cair o mito do príncipe e transferiram pro mito do vampiro que brilha ou do lobo fortão que faz de tudo para salvá-las. Mas vejam bem esses exemplos: os lobisomens e os vampiros são tão míticos quanto a perfeição que os acompanha.
A gente tenta agradar, é sério. A gente se esforça, é sério. Mas enquanto vocês tiverem essa fixação por uma imagem que não permite falhas ou erros, nunca seremos bons o bastante para vocês. Essa é a verdade. Por isso eu proponho esse manifesto: derrubem seus príncipes encantados do cavalo branco. Comecem a enxergar além do que os milhares e milhares de desejos e qualidades que vocês querem e deem valor às qualidades que um bom cara pode ter. Ele deixou de ir ao futebol para te ver? Ele deve realmente gostar de você. Deixou de encontrar os amigos para passar a tarde contigo? Ele é bacana a ponto de valorizar a sua companhia. Comprou um presente e você não gostou tanto assim? Ele se esforçou para acertar e ainda teve a paciência de comprar algo. Esqueçam os príncipes, os vampiros brilhantes, os lobisomens, os empresários do Wall Street. E me façam o favor de esquecer os tais sapos encantados também: esses são os mitos das que têm esperança em mudar completamente o cara legal que conheceram e fazê-lo virar o homem dos seus sonhos. Se ele for realmente o homem dos seus sonhos, você vai começar a sonhar com ele depois de conhecê-lo. Ele não vai tomar o lugar do príncipe encantado de antes. Ele vai te conquistar a ponto de fazer você perceber que contos de fadas são apenas contos.