Bailarina II


[Ela era assim e você pode conhecer a nova fase dela ao som de The Girl]

Olha a menina. Entre tantos rodopios e saltos, entre tantas valsas e ballets, ela finalmente caiu. Dessa vez não resistiu ao entregar o coração ao último que prometeu amor eterno. Perdeu a graça na sequência de movimentos que a coreografia pedia. Se entregou demais, estendeu demais as mãos, olhou fundo demais nos olhos. Muita verdade para algo tão mecânico quanto esta dança. Ela não pôde prever que seu dançarino a deixaria cair assim que se atirasse sobre ele.

Segura a menina. As lágrimas dela não são lágrimas de quem não soube aproveitar o espetáculo. Se ela soubesse a comoção da platéia ao vê-la desmoronar; se soubesse o quanto eu fico apreensivo ao vê-la se jogar no chão involuntariamente. Ela baixou a cabeça no exato momento em que se desprendeu do ar. Só eu vi beleza na sua entrega, no furacão que se tornou seu salto, na magia que foi sua sinceridade. Ela não pôde entender porque ele a deixou sem o seu abraço. Eu a teria segurado.

Ajuda a menina. Ela não tem que ficar deitada no meio do palco sozinha. Ela nunca teve que dançar sozinha enquanto pôde. Seus passos vão se tornar mais duros, eu prevejo. Seu sorriso vai desaparecer por um tempo, eu garanto. Seus cabelos nunca mais serão soltos. Mas sabe? Isso vai durar até que ela encontre alguém que a entenda. Ela desenha códigos com o corpo, expressa mais do que deveria ao se lançar pra frente. Suas sequencias alteradas são formas de dizer ao mundo que ainda acredita num destino diferente. Ela vai conseguir se recuperar e continuar errando por aí com o coração na mão. É o jeito dela de acreditar na vida. É o jeito dela de me fazer de bobo enquanto meus olhos brilham com a beleza e o encanto da esperança dela.

Levanta a menina. Ela tem essa coisa de não querer a minha ajuda. Todos os olhos nela e ela não liga. Poderiam dizer que ela só quer ser o centro das atenções, que é um drama desnecessário. Ninguém sabe o quão difícil para ela é encarar os olhos de uma multidão que acreditava no seu passo de dança. Pior que o passo incompleto foi ter perdido o amor mais uma vez. E ela se culpa pela esperança. Se culpa por acreditar nisso. E recusa mais uma vez as minhas mãos. Justo eu, que só queria uma chance de mostrar pra ela que meu mundo se move mais devagar com ela nos braços. Que seu salto seria mais belo se eu a segurasse. Que meu ritmo depende do dela para manter o compasso. Pobre menina, não me olha nos olhos e não me enxerga então. Meus braços têm a força para levantá-la do chão. Ela se prendeu a ele porque quis.

Me olha, menina. E descobre um rosto curioso que quer te fazer bem. Se não for pra dançar contigo, que seja pra te ver sorrir por aí. Me segura, menina. E descobre que meus braços são fortes e minhas mãos são precisas. Se não for para te guiar, que seja para te passar a outro com a segurança de uma boa condução. Me ajuda, menina. E descobre que eu tenho mais a oferecer do que você imagina. Se não for pra te ensinar os meus passos, que seja para aprender com os teus. Me levanta, menina. E descobre que meus olhos estarão sempre na altura dos seus. Se não for para te olhar fixamente, que seja para suplicar por um olhar teu. Dança comigo, menina. E eu te faço a mulher mais feliz do mundo.

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