Bailarina


Deixa a menina. Ela não tem culpa de despertar esse tipo de pensamento em mim. Quando ela se requebra, se desdobra, se transforma… E me quebra. Não, ela não tem a menor ciência disso. Mas se ela soubesse que daria o mundo pelo mundo dela, será que ela continuaria a ter essa graça inocente de bem querer a vida?

Deixa a menina. Percebe que ela sorri com todas as formas possíveis. Sorriso de surpresa, sorriso de noivo no altar, sorriso de mãe recente, sorriso de criança que descobriu o céu. Não, ela não tem a menor idéia de que cada palavra que sai da boca dela me faz disparar os olhos sobre mim e perguntar pro vento o que é que tem de errado. E receber como resposta uma brisa breve que diz que tudo está certo.

Deixa a menina. Ela não tem culpa de querer mostrar pro mundo toda a sua força num passo de dança. Se ela se exibe, tem a única razão de querer que vejam seu vendaval enquanto balança os cabelos. Ela me seduz sem saber o quanto o meu orgulho está em jogo. E diz que toda bailarina sabe como transformar uma mulher em menina sem que tire os pés do chão pra isso.

Deixa a menina. Ela traz o coração nas mãos experimentando a sensação de estar sempre em risco. Oferece seu tesouro ao primeiro que prometer amor eterno. Ela não tem culpa de ainda acreditar em contos de fadas. E mal sabe ela que eu devolveria aquele coração ao lugar ao qual pertence. E levaria o meu junto pro peito dela. Ela me mostra que o sistema de cores criado pelo Universo esqueceu-se de colocá-la no grupo das cores mais quentes e cheias de vida que existem. Ela continua sendo uma cor única que tem o peso de uma folha de papel.

Olha pra mim, Menina. Você não tem culpa de não conseguir ver onde está o meu lugar. Você brinca de colecionar amores sem propósito, jogos de cena sem interpretações fiéis. Ninguém sabe que você não faz por mal. É só a tua forma de errar na vida. Imagina a nossa cena. Você só não vai conseguir se ver com mais alguém. Enquanto dança e rodopia pensando em outro mundo, eu te interpreto da forma que me convier. Tu, guria, que nasceu pronta pra ser dona da tua história, paga um preço alto sem saber: teus passos foram feitos para serem dançados sozinhos. Tua via é de mão única, tua valsa é escape das paixões que te tirariam o brilho e a vida que a solidão te deu.

Deixa assim, Menina. A tua força está na solidão da tua dança. A tua escolha está na sensualidade ingênua. A minha forca está em te querer pra mim.

bovo

 

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