Não vai. Você não pode ir. Deixa o que sobrou de mim com você. Os meus segredos, o meu beijo de despedida, a minha promessa de amor, aquela foto na nossa formatura, aquele abraço na páscoa de 2007… Deixa tudo contigo. Fica aqui me olhando, me dizendo baixinho o que você não sabe dizer. Me deixa te ligar de noite de novo, eu juro que digo “boa noite” com menos carinho.
Não fica aí parada, olhando pra mim como você sempre faz. “Eu não sabia que tinha sido importante pra você”. É assim que você responde quando eu digo que não consegui te superar. Uma risada dolorosa essa sua. Casamento? Claro. Se seu plano de vida caso não tenha alguém pra casar é casar comigo, eu aceito. Te levo ao altar, te dou um beijo de amor e recebo um de pena em troca.
Se eu me lembro? Me lembro muito bem como tudo começou. Você veio atrás de mim reclamar, com seu discurso de sempre, que eu te ignorei. E olha que nós nem nos conhecíamos para eu poder te ignorar assim. Mas fiquei curioso. Eu realmente fiquei curioso. Eu não seria bobo de te ignorar caso eu soubesse quem era você. “Prazer, Fernanda”. Eu só consegui responder pra mim mesmo mais tarde. Prazer, meu anjo.
Não finge que não é com você. Não me chama de louco sem razão. Era você sim. Eu me lembro dos teus cabelos pretos ondulados batendo no meu ombro em dia de chuva. Era você sim, eu me lembro daquela roupa de educação física que te deixava ridícula para os outros, mas não mudava em nada o que eu sentia. Se não era você?! Era você sim. Que me chamava de bobo com um sorriso e me olhava com ternura.
Não abaixa a cabeça, não. Eu te conheço. Já sei exatamente como jogar. E fui eu que mudei, não é, meu amor?! Eu que me transformei naquilo que você nunca sonhou. Se eu consegui quebrar a barreira que estava em volta de você, o que você fez foi construir uma à minha volta. Olha pra fora, estende a tua visão. O sonho continua o mesmo. O que mudou foi a cabeça do sonhador.
Suas frases de efeito não fazem mais sentido pra mim. E a minha amizade parece ser a única coisa que você precisa quando está bem. Aliás, apenas quando está bem. Porque quando não está, meu bem, você volta aos seus jogos de interesse. E me promove a interesse romântico outra vez. Realmente hilário, pensando assim.
Quer saber? Vai. E não precisa voltar. Vai e deixa tudo aquilo que eu deixei em você. A segurança, o amor, a compreensão, a capacidade de sonhar. Deixa aqui, me devolve. Os seus devaneios de amor não me interessam mais. E, na realidade, a sua personalidade de princesa de contos de fadas também não. Porque realmente, o que acontece aqui, é que a minha idealização fez de mim culpado. Mas me deixar te ver usando um vestido de ilusão – o mais bonito que você já usou, aliás. – é culpa tua.
Vai, meu amor. E não olha pra trás. Eu já rasguei as cartas, refiz meu mundo. Aliás, comprei um novo chão, daquele tipo que você mais gosta. Um chão de nuvens. Alvo, frágil e macio. Do tipo exato que você gostava de me fazer deitar nas nossas conversas. E comprei um sorriso igualzinho ao seu pra pendurar na parede. Mas hoje, infelizmente, eu quebrei alguns dentes dele. Foi um soco, confesso, mas foi inevitável.
Lembrei de você antes de enviar essa carta. Uma menina com um balão muito bonito estava passando em frente ao prédio. Infelizmente, ela foi olhar pro lado, se perdeu olhando um cachorro e deixou o balão escapar. Ela chorou por breves cinco minutos. Foi só olhar pro alto, ver o céu maior que o balão, que ela aprendeu a sorrir de novo.