Eu cresci me relacionando quase sempre com homens brancos. Demorei demais pra começar a entender que o reflexo do meu desejo era com base no que as novelas, filmes e revistas jogavam na minha cara como sendo o certo, o aceitável. Cresci cercada de pessoas brancas e elas eram sempre colocadas como sinônimo de perfeição. Eram elas que formavam os casais perfeitos e desejados por toda adolescente. Isso foi sendo replicado também entre os rapazes negros e, com isso, eu me sentia sempre preterida. Por que eu não posso formar um casal como eu via em todos os lugares? Eu também quero um amor.
Muitos homens brancos crescem aprendendo que a negra é apenas a mulher da cama, pela crença antiga de que ela é puro fogo na cama. Mas me perdoe, não sou seu objeto de desejo. O meu cabelo não é objeto pra fetiche, o meu quadril largo também não e muito menos a cor da minha pele. Não posso ter um amor branco, não consigo ter um amor preto, mas sou obrigada a ter essa constante e dolorosa solidão como companhia. Viva a solidão da mulher negra!
Sou elogiada nas redes sociais com frequência, vivem me chamando de mulher forte, de mulherão da porra, mas tudo que eu realmente quero é que enxerguem a minha fragilidade. Eu também preciso de cuidados por mais que esteja cuidando de todos o tempo todo. Eu também tenho meus dias ruins onde só quero um abraço, um colo, um cafuné. Quero que além dos elogios, venham convites para jantar, para passear, pra ficar deitada abraçada conversando bobagens…
Quem cuida de mim? Quem me dá a mão na rua? Quem me assume como companheira? Vivo me fazendo essas perguntas enquanto sigo na luta contra a solidão que insiste em se fazer presente. Ser uma mulher negra não é fácil, muitas vezes é dolorido, mas sigo sorrindo e acreditando no amor apesar dos pesares. As minhas cicatrizes me ajudam a seguir em frente e me fazem entender que não posso e nem devo aceitar qualquer migalha afetiva.
Mas, por favor, não esqueça que eu também quero um amor.