[Você pode ler este texto ao som de To a T]
As palavras que você disse naquele monólogo ensaiado em janeiro passado, eu jurava que eram sobre mim. Comprei os ingressos para o teatro na esperança de te ver sorrindo, mas você esqueceu de me avisar sobre o drama da peça. Esperei os sorrisos-chorados da plateia, aguardei ansiosamente a hora de te abraçar e dizer que eu também amava ver a vida daquele jeito.
Mas o objetivo nunca foi ser bonito, foi?
Os verbos que você não usou na manhã de março, eu tinha certeza que eram para me privar do sofrimento. A sutileza das suas palavras, o modo com que as vogais saíam da tua boca… Eu jurava que você tinha um cuidado diferente com as coisas que eram nossas. Monitorei como uma criança imatura cada coisa que você postou naqueles dias, como se tudo girasse ao redor do meu corpo.
Só que nada gira ao redor da gente como costumamos querer.
Acho que todos nós passamos por momentos como esse na vida. Nem é mania de perseguição, é só um desejo inocente de se sentir querido quando a felicidade foge ao nosso controle. Juramos que cada movimento do outro, cada frase dita e cada passo dado são sobre a gente já que, oras, encaixa perfeitamente na história que vivemos com a tal pessoa.
Por quê?
Ainda que nosso egoísmo queira, a vida do outro não gira em torno da nossa. E o contrário também é verdadeiro: nós não precisamos medir as palavras, evitar as postagens, fingir cara feia só para o outro não achar que estamos querendo atingi-lo; que não esquecemos ou seguimos em frente rápido demais… Tanto faz. As vidas seguem depois de tudo, sabia? Nem todo ódio é sobre nós, nem toda saudade também.
Pessoas acontecem, momentos passam. Nem nossa vida nem a do outro se tornam um emaranhado de indiretas sobre o que passou.
As palavras que você disse no monólogo de janeiro não eram sobre mim, eu sei. Da mesma forma que os discursos nostálgicos que você escreveu quando já era inverno também falavam sobre outro sorriso. Eu quis que sim, juro que quis com todo o meu coração que fosse sobre mim, mas a vida não é assim.
Quando uma pessoa vai embora da nossa existência, o mundo continua a girar, mas não é ao redor da gente. Nós somos só um pequeno fragmento do todo. E que bom que é assim.