A enlouquecedora luta para ser feliz e perfeita ao mesmo tempo


Todos os dias acordo fazendo uma lista de tudo que tenho pra fazer. Não sou uma pessoa organizada. Faço muito mais do que planejo. Talvez, se planejasse, conseguisse fazer as coisas de forma mais calma. Mas não consigo.

Desisti de mudar. Preferi aprender a lidar com meus defeito e, por isso, acordo fazendo uma lista mental de tudo que preciso fazer. Não tenho muito espaço pra imprevistos e nunca gostei de lidar com eles.

Estou aprendendo também a lidar com a enorme frustração que me assola quando algo não sai como eu quero. Me vejo criança mimada que ganhou uma bicicleta amarela e não a rosa que tanto queria e chora exageradamente. Mas agora respiro e tento andar na bicicleta amarela. Vai que é igual? Aprender a lidar com erros e defeitos em vez de tentar mudar ou de me esconder na cama em posição fetal me sentindo o pior ser do universo é a minha receitinha básica para dias mais felizes.

Aceitação.

Eu não sou perfeita. Pode parecer óbvio pra você, mas pra mim foi uma descoberta chocante. Na verdade, eu entendi desde cedo que não era. Não tinha o peso perfeito, o corpo perfeito, o jeitinho delicado perfeito. Mas acreditei dolorosamente que poderia atingir todos os padrões e superar todas as expectativas. Eu podia ser perfeita se quisesse. Todos me diziam. “Você é tão bonita, só precisa perder uns quilinhos”. “Você é tão inteligente, poderia ter tirado 10 e não 8”. “Você pode ser tudo o que quiser ser”.

Mentira. Muitas vezes quis ser invisível e nem todo o meu querer resolveu a questão.
Perdi o tal peso. Tirei o tal 10. E ainda assim não era perfeita. Estranho… Sentia que estava sempre decepcionando a todos e não percebi que na busca por ser quem os outros queriam que eu fosse eu decepcionei muito a mim mesma.

Resolvi tentar de outro jeito. Passei a fazer tudo exatamente oposto ao que esperavam de mim. Grande profissional? Casei e fui mãe. Rebelde? Não fumava nem maconha. Revolucionária? Parei de dar opinião. Ela gosta de ler, passei a assistir tv. Ela escreve tão bem, não pegava caneta nem pra anotar receita de bolo.

Ridículo? Infantil? Talvez sim. Foi a minha tentativa de forçar os outros e principalmente a mim mesma a entender que eu não era e nem seria perfeita.

Mas eu continuava a ser minha maior inimiga.

Acabei entrando em outra armadilha, ainda mais perigosa. O da mulher/mãe perfeita. Buscar um corpo perfeito e notas perfeitas não chegava nem no pé do monstro da mãe perfeita. Mais uma vez me vi presa em um estereótipo fadado a gerar decepções em todos os seres do universo. Vivemos dentro de uma redoma habitada por fiscais da maternidade exemplar. Não sabiam? Todos, absolutamente todos os seres do universo se acham no direito de julgar os seus dons maternais. E, aparentemente, se você conseguir o selo de boa mãe, automaticamente perde o de boa esposa. Não tem opção. Um selo anula o outro.

Frustrada e frustrante, eu desisti. Não da maternidade, do casamento. Achei que já que não era uma boa esposa, seria mais justo parar de tentar e poder finalmente ser feliz. E aí então descobri que ao abrir mão do selo de boa esposa, eu automaticamente perdi o de boa mãe. Aparentemente boas mães não abrem mão do casamento só para serem felizes.

DESISTI. Fui ser feliz. Nunca pensei que abrir mão dos selos e da possibilidade de obtê-los seria tão libertador. Saí a noite, bebi. Beijei desconhecidos. Algo impensável para uma mãe-modelo.

Lutei bravamente contra a quase irresistível vontade de ser a solteira perfeita.

Descobri aos poucos a respeitar meus defeitos. Lembra da minha lista mental de tudo que preciso fazer? No início, o primeiro item da lista era não tentar ser perfeita. Hoje já nem preciso por na lista. Acho que nem tenho mais chances de ganhar selo de qualquer coisa. Liguei um botãozinho dentro de mim que me protege de mim mesma.

Já não quero ser a melhor. Sou o melhor que eu posso, dentro do que eu acredito. E quando as pessoas me perguntam o que eu quero eu respondo: Ser feliz. Seguirei buscando isso. Momentos felizes que façam a vida valer a pena. Enquanto isso, as minhas filhas me acham imperfeitamente a melhor mãe do mundo.

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