[Você pode ler este texto ao som de “O Vento“]
Me ajuda a te esquecer. Eu precisei me afastar porque não estava rolando nós dois, mas eu não imaginei que a distância e o silêncio me inundassem das horas mais lindas que passei do teu lado. Todos os dias são chuvas de detalhes tão nossos e isso me consome em proporções distintas cada vez.
Eu tento me comunicar por mensagem subliminar, por sinal de fumaça, mas não sei se você percebe. Eu não queria sentir tua falta, mas sinto. Me ajuda a te esquecer? Estava mais fácil quando eu não te reconhecia, quando a gente se falava feito dois estranhos que nunca se amaram e se amaram até o fim. Aí, sei lá, veio o acaso. E o silêncio. E a distância. E, me afastando, me aproximo mais da gente, das horas bonitas, das lágrimas sentidas, dos abraços apertados.
Confesso que está tudo meio caótico do lado de cá. Acho que sempre foi caos, desde a tua vinda, mas a intensidade está diferente das outras vezes. Andei meio perdida, meio fora da linha, meio sem saber por onde vou e qual o objetivo. Sei lá, vivo uma hora de cada vez, sem criar grandes planos – nem alimentar maiores expectativas.
No meio dessa bagunça toda eu queria te esquecer. Queria conseguir levar a vida sem a lembrança tua. Queria não sentir vontade de te contar a vida, tampouco sentir essa curiosidade de saber como vai você, o que tem feito, o que tem comido, como tem vivido, que filme assistiu no último domingo e se recebeu boa nota naquele trabalho – que não sei nem se entregou.
Quando saí por aquela porta, eu já não sabia muito da tua vida. Era perceptível o hiato crescendo entre nós dois, mas entre colecionar maiores mágoas ou guardar uma história bonita no bolso, eu escolhi a segunda opção. Levei embora o que podia, guardei bem guardadinho na intenção de conseguir deixar para lá e viver lindamente sem me lembrar de você todo dia, toda hora.
Eu fui embora para tentar te esquecer. E o esforço de esquecer, é a vontade de lembrar – e eu termino esse com esse trocadilho ridículo, assassinando a letra de Los Hermanos (desculpa aí, Amarante e Camelo)…