Foi no meio da tarde, entre o almoço e aquele café que sentencia o esforço de Morfeu. De frente pro computador eu tentava finalizar um relatório chato e sacudia as pernas numa ansiedade sem explicação. Uma saudade monstruosa me invadiu sem pedir licença e eu me perdi em pensamentos retrógrados. Tentei espantar as memórias, mas elas eram mais fortes e mais teimosas que eu. É difícil expulsar a saudade do peito, ela machuca, mas ao mesmo tempo é tão gostosa. Um sorriso bobo nasce nos meus lábios sempre que ela vem à tona e no fim uma lágrima escorre. É inevitável.
Meu passado é infinitamente mais bonito do que o presente que vivo hoje e por isso não consigo virar a página ou fechar o livro. Olho para trás e quase consigo tocar a felicidade que eu levava na mala pra todo canto. É como se eu vivesse num tempo que não me pertence mais, como se meu coração ainda morasse naquela fração de vida que veio e foi. Alguma coisa dentro de mim ainda quer reviver aqueles dias. Esse desejo é utópico, eu sei, mas eu não sou capaz de evitar. Aquele tempo me transformou e hoje sou um reflexo do vivi ali. Com você.
Antes da sua chegada eu era alguém que ansiava por uma caminhada leve e branda. Me contentava com promessas vazias e enchia o coração de esperança com cada beijo roubado. Os planos estavam bem traçados e eu tinha tudo muito calculado. Você apareceu remexendo dentro de mim e desordenando o que eu tinha programando para o futuro. Era tudo tão vivo e abundante que os nervos permaneciam à flor da pele o tempo todo. Agora eu faço o que? É difícil ver a chama apagar e reaprender a viver num mundo onde não há toda sua intensidade. Sinto frio aqui e busco o calor nas lembranças, mas elas carregam temperaturas negativas.
Não é você, não sou eu, não foi o fim. É só a saudade massacrando o que ainda está por vir. Há verão lá na frente, eu sei. Preciso eliminar a nostalgia para conseguir dar um passo a diante sem olhar para trás. Preciso exorcizar o que vem me afligindo para voltar fazer planos que não incluam ter você de novo. Muita coisa está por vir e eu não consigo mais viver assim, acorrentado a uma história que se encerrou. Preciso sufocar essa ausência toda num aglomerado de novas experiências e para isso eu vou matar o que vivi contigo. Me perdoe, a culpa não é sua, mas a saudade que você deixou aqui precisa morrer.