[Você pode ler este texto ao som de Chasing Cars]
Eu não queria me apaixonar. Tava só tirando um tempo da vida para mim, tentando discernir cada uma das possibilidades que se apresentavam na minha frente, quando você apareceu. Não pediu se havia espaço, não perguntou se eu me importava com o tamanho do estrago que você poderia fazer. Só permaneceu em silêncio.
Não demorou muito tempo para o meu mundo virar depois disso. Com menos um grau lá fora, eu quase tropecei na beira da calçada enquanto pensava em você. De onde vem essa mania involuntária de sorrir da vida quando tudo na frente da gente é puro cinza? Cinza. Talvez já não seja mais assim.
Enquanto eu ouvia o som da tua respiração do outro lado do celular, a sensação que subia era de que nada mais seria como foi. Maldito o dia em que eu precisar acordar sem poder mais ouvir tua voz, pensei. Mas perder você é a única coisa que já não passa pela minha cabeça agora, mesmo que eu ainda não tenha te trazido pra viver comigo.
Mesmo que isso só viva dentro de mim.
Nessas noites geladas desses dias frios, enquanto eu troco o café por uma taça de vinho, a única coisa eu faço é deitar a cabeça no braço do sofá da sala e sorrir por você. Cadê teu abraço que não aqui? Tento explicar para o meu peito que um dia isso muda e você está em outro canto do país, mas não é bem assim.
Peço um pouco de calma pro coração, peço um pouco de pressa aos ponteiros do relógio. Qualquer coisa que faça do meu peito um lugar seguro para te oferecer abrigo.
Eu não queria, eu sei. Mas já não é assim. No mesmo instante em que eu tento entender qual o meu lugar no mundo outra vez, a única certeza que invade a minha cabeça é a de que não vai fazer sentido nenhum se não existir você no fim.
Vou arrumando a sala. Tentando colocar um pouco mais de enfeite na alma. Só para ver se você decide ficar por perto um pouco mais de tempo. E permanece comigo até que o silêncio berre em uma melodia lenta que me lembre o brilho dos teus olhos.