Onde foi que eu estava com a cabeça quando deixei você entrar e bagunçar tudo desse jeito? Depois de passar uma vida inteira colocando as coisas no lugar, como te permiti entrar, revirar e me levar um pouco embora? Como eu, tão pé no chão, me permiti entrar nesse jogo de sedução, achando que brincadeiras não machucam? Eu devia estar louca, rapaz. Eu, definitivamente, devia estar louca.
Sempre gostei do preto no branco e levei muito tempo para conseguir ajeitar o caos que vivia diariamente. Lembro o dia que sorri quando vi cada coisa em seu lugar — sobretudo o coração. Ele palpitava com uma serenidade gostosa, sabe? Cada tum-tum era uma canção de ninar: eu respirava e dormia tranquila. E estava tudo indo bem, até deixar você entrar e bagunçar tudo.
Fiquei ansiosa, confesso. Meu coração descompassou, bem com minhas entranhas. Tudo se contorcia aqui dentro e bastava ouvir teu nome que os lábios se contorciam num sorriso maroto, cheio de desejos e segredos. Você chegou de mansinho e foi tirando as coisas do lugar sem pressa. Era uma dança que caminhava para o caos.
Eu só não imaginei que o caos chegasse tão logo e fosse tão abrupto – e doloroso.
Quando caí na real, só restava bagunça e eu, sentada no meio de tudo, sem saber o que era meu e o que era teu. Onde foi que eu estava com a cabeça quando deixei você entrar e bagunçar tudo desse jeito? Você saiu pela mesma porta que entrou, mas dessa vez sem fazer barulho. Depois de passar uma vida inteira colocando as coisas no lugar, como te permiti entrar, revirar e me levar um pouco embora? Eu não ouvi quando você saiu. Só ouvia o tum-tum do meu coração, batendo descompassado, acelerado, ansioso – e apaixonado.
Eu devia estar louca, rapaz. Eu, definitivamente, devia estar louca.