Tava tudo indo bem demais até acontecer. Chega a ser engraçado perceber que eu cheguei até aqui sem você. A primeira sensação que ficou depois de terminar foi de que eu permaneceria um longo tempo parado ali, no mesmo lugar de antes, observando o universo passar na frente dos olhos.
Foi no dia em que a gente precisou ir cada um prum lado, se lembro bem, que eu disse que as coisas talvez nunca mais fossem convergir para o mesmo fim. Você riu do meu vocabulário enfeitado para falar de um futuro que talvez nunca existisse, mas eu tava falando da gente.
Em todos os dias que eu parei para pensar nisso depois, foi a mesma história. Aquele papo velho de aceitar que é difícil dizer as coisas do peito para fora sem deixar que a garganta e os órgãos todos pelo caminho saiam feridos. Você demorou para reagir ali, eu nunca consegui me localizar no mundo outra vez. A gente decidiu que era melhor para os dois se fosse assim. E a sensação que fica é de que o que vem a seguir é bem pior quando tudo termina bem.
O que talvez ninguém tenha percebido até agora é que fins marcam a gente diferente do que deveriam. Quando a gente se abraçou no sofá e decidiu que não adiantaria muita coisa levar em frente, eu pensei que as coisas continuariam bem aqui dentro. Mas não foi dessa forma pouco dolorosa.
Não teve uma noite naqueles dias em que foi fácil dormir. Coloquei calmante no chá, deixei de dormir os minutos que costumava depois do almoço, comecei a correr dez quilômetros por fim de tarde para ver se o corpo sentia algum tipo de cansaço que me fizesse apagar. Mas adiantou nada.
Depois que aconteceu e eu continuei te querendo bem, foi que eu percebi saudade acompanha a gente mesmo quando não é mais possível levar adiante. Não teria mais como ser a gente. Não haveria modo de continuar levando as coisas do mesmo modo sem se ferir na frente. Mas isso não me fez sentir menos falta de você.