Eu preciso me colocar em primeiro lugar


 

Outro dia eu estava conversando com um amigo meu, e é claro que assunto foi parar em você. Eu até tentei não falar sobre, mas ele leu nos meus olhos que eu precisava falar de você, precisava tirar você do único lugar que você tem estado: preenchendo todo o meu peito com lembranças, dúvidas e inseguranças.

Eu acabei contando sobre tudo, sobre a montanha russa que eu acabei entrando e que leva seu nome. Contei sobre como as coisas foram subindo, subindo, um dia após o outro, um toque de mãos mais demorado e um beijo mais suave, um abraço na frente de outras pessoas e um segredo no pé do ouvido que você um dia mordeu, pra me ver corar. E contei também sobre como logo depois a descida veio, sem aviso, sem remédio, sem cinto de segurança.

Contei sobre como eu desabei, caí naquele trilho sem fim enquanto tentava segurar o pouco de lembranças que conseguimos criar, antes que elas fossem levadas pelo vento.

E sabe o que ele me falou?

Ele me falou que eu preciso me colocar em primeiro lugar, T. você acredita nisso?

Quando eu disse que eu me sentia seguro com você, e como eu sentia que você era a única coisa que me parecia tão presente, tão certa, ele me olhou desapontado. E disse que eu preciso encontrar segurança em mim primeiro.

Eu quase achei graça, T. Eu só não ri por causa do nó na garganta.

Mal sabe ele que eu não conseguiria nunca me colocar em primeiro lugar. Não por eu não ter auto estima ou o que quer que se pregue nesses discursos de bem-estar, mas porque eu nunca vi uma relação como um pódio. Eu sempre achei que se fosse para ganhar, que fôssemos nós dois. E que se fosse para perder, companheirismo.

Marisa Monte uma vez cantou “eu não quero ganhar, eu quero chegar junto”, e era isso.

Era o que eu sentia quando via você do meu lado. Era o que eu sentia quando você se aninhava em mim. Foi o que eu vi nos seus olhos quando eu te apresentei o meu lugar favorito, foi o carinho que eu senti quando você me segurou firme, nos nós dos seus dedos tatuados.

E a conversa terminou sem final.

Você nunca me explicou o motivo, mas um dia você não estava mais comigo naquele carrinho da montanha russa. Você talvez não lembre mais do meu lugar favorito, ou talvez as coisas não tenham tido tanta importância como você dizia que tinha.

E agora eu estou no pódio.

Não sei se em primeiro, segundo ou o quê, mas estou sozinho.

E não vejo prêmio nenhum a ser ganho que venha a compensar a sua ausência.

P.S.: “T” é figurativo. Você foi real demais.

 

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