Pra quem gosta de séries o assunto da semana é a estreia de The Handmaid’s Tale, do site de streaming Hulu, cuja história é baseada no livro homônimo de Margaret Atwood, lançado em 1985. Apesar de ser descrita como uma distopia, os 3 primeiros episódios lançados no dia 26 de abril trazem uma realidade que não parece tão distante assim da nossa.
O enredo acompanha Offred (Elisabeth Moss), que vive em Gilead, uma sociedade ditatorial religiosa que se instaurou no que antes era os Estados Unidos. Depois de ataques terroristas e muitos desastres ambientais causados por radiação, a taxa de natalidade cai radicalmente, e o governo passa a ser proprietário de todas as mulheres, controlando principalmente as férteis, transformando-as em escravas sexuais.
Além de perderem o controle do próprio corpo, elas perdem também sua identidade. Offred não é um nome e sim um título, significa que ela pertence ao comandante que lhe foi designado: Fred (em inglês Of Fred, ou pertencente ao Fred). Elas são capturadas e treinadas até estarem aptas a repetir com destreza frases bíblicas, sendo totalmente subservientes aos homens à sua volta.
A linha do tempo vai e volta, mostrando o presente e revelando um pouco do passado. É chocante porque num momento tem alguém chamando um Uber e no outro temos mulheres vestidas com mantas largas da cabeça aos pés, todas iguais. A sensação é que deveria ser o contrário.
Mas o mais assustador disso tudo é perceber o quanto não está distante da nossa realidade. Homens que acham que mulheres são sua propriedade? Uma religião que quer mandar no corpo das mulheres? Um governo que obriga todos a viverem de acordo com sua posição social e com um medo constante? Para cada exemplo é possível citar um país em que isso é a lei nos dias de hoje.
É um pouco perturbador acompanhar essa história, e muito difícil não se indignar. Gays são chamados de “traidores do gênero” e condenados à morte — a não ser que seja uma mulher fértil. Transgressores são enviados para recolher lixo tóxico. Até as mulheres de classe mais alta usam os mesmos uniformes e vivem para obedecer seus homens.
Offred em certo momento diz que nenhuma mudança acontece do dia pra noite, mas que as pessoas vão ignorando enquanto podem. Ignoramos quando mulheres sofrem violência doméstica e quando a polícia mata estudantes em manifestações. Ignoramos a perda de direitos trabalhistas e o apedrejamento público de homossexuais. Ignoramos até a mudança dos direitos políticos. O ser humano se adapta a praticamente qualquer coisa, mas quando é a hora de parar de ignorar?
The Handmaid’s Tale pode ser ficção, mas com certeza traz muitos questionamentos pertinentes sobre direitos humanos e feminismo. Se conseguir assistir, vale também pela fotografia, trilha sonora e elenco, composto ainda por Alexix Bledel (Gilmore Girls), Samira Wiley (Orange is the New Black), Yvonne Strahovski (Chuck, Dexter) e Joseph Fiennes.
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