Eu só queria sentir alguma coisa


[Você pode ler este texto ao som de Fools]

Eu parei na porta de entrada para ver se me deixava tocar pela corrente de ar. Fiquei ali por um tempo, virei a madrugada inteira esperando a chave virar e as coisas acontecerem, mas não funcionou assim.

Bateu um calor desgraçado quando eu vi que não seria com ela. Logo eu, que tenho claustro, quis me trancar um cubículo no canto da sala. Eu tô aqui por ti, já percebeu? Não percebeu, mas tá tudo bem também. O mundo não é desse modo o tempo inteiro. Uma hora eu começo a enxergar as coisas de outra perspectiva.

O problema é justamente esse. Ignoramos o universo inteiro, a maneira com que as pessoas entram e saem do nosso campo de visão enquanto fechamos a vista em um ponto mórbido de nós mesmos. Se não for assim para mim não está bem. Mas estar e estar bem são duas coisas completamente diferentes.

Não sei como está sendo pra você, mas veja bem: larguei emprego, chutei parede, corri dez quadras embaixo de chuva para sentir alguma coisa nova aqui dentro. Esperei que as coisas fossem se encaixar, mas esqueceram de me avisar que o mundo não gira para nós se não o fizermos por nós mesmos. Pensei que dessa vez aconteceria diferente, mas nem chegou a ser.

Agora tô aqui, com uma cara imensa de tapado esperando as coisas acontecerem. No fim das contas é sempre a mesma história. Você aí com a mente vagando anos luz longe. Eu com o tempo parado na frente dos olhos. O mundo correndo para um ponto em que nenhum dos dois consegue enxergar.

Tô deixando esse vento chato esbarrar no rosto, mas não é desse tipo de toque que eu tava precisando. O que precisava mesmo é de um discurso clichê meia boca que não dá  perspectiva de melhora e ainda assim diz que tudo vai ficar bem quando terminar.

Mas nada.

Enquanto isso eu estou. Mesmo que estar e estar bem sejam estágios completamente distintos de existir.

 

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