Não pensava há tanto tempo que seu rosto demorou a se formar na minha cabeça. Pensei assim, do nada, como quem lembra que precisa comprar shampoo.
E finalmente, depois de tanto tempo, você me roubou um sorriso. Deu saudades, acredita? Eu não. Na última vez que pensei em você, todo sentimento bom ainda estava escondido sob os escombros de nós dois.
Acho que finalmente te perdoei por ter ido embora.
-Eu não fui embora, você diria.
Verdade… você não foi.
Seu abandono foi diário. Todos os dias um pedacinho de você descolava de mim. Alguns você soltou devagar, com tanto cuidado que eu mal percebi. Outros foram arrancados de vez, talvez pra doer menos. Não funcionou. Doeu.
Eu assisti imóvel enquanto a solidão tomava conta das minhas multidões. Resisti, com um misto de esperança e total incapacidade de reagir. A verdade é que simplesmente eu não sabia o que fazer.
Vivemos essa realidade de band-aids sendo tirados da pele sensível por tanto tempo que nem sei quando começou, e o que aconteceu no dia em que finalmente não havia mais nada. Nem uma pontinha. E eu simplesmente saí da sua vida com a mesma determinação com a qual entrei.
Você não entendeu. Esbravejou, gritou, choramos… lembra? Mas eu não tinha mais motivos pra ficar. E você sabia. Não tinha como ser fácil. Fomos perfeitos por um tempo.
– Você não tem medo?
– Muito.
– E vai mesmo assim?
– Vou.
E fui.
E evitei pensar em você, porque dava vexames gigantescos todas as vezes. Soluçava no carro, na rua, no banheiro. Mágoas gritam, sabia? Criei mecanismos pra não pensar. Trabalhei mais. Corri quilômetros. Passei diversas insônias trocando mensagens com carinhas descartáveis.
E esqueci. Deixei você passar.
E o tempo passou também.
Até que, finalmente, hoje, meu cérebro relaxou.
E lá vem você. Passeando por meus pensamentos. E eu sorri. Já te falei que eu sorri? Acho que sim. Eu te perdoei. Por ter se descolado, por ter dito que nunca me deixaria sozinha. Por tantas promessas que nós dois não conseguimos cumprir.
Eu já não te amo mais. E segui minha vida sem você. Mas vou deixar essa saudade passear por aqui de vez em quando.
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