O que eu aprendi com cavalos sobre relacionamentos


[Você pode ler este texto ao som de Castle on The Hill]

Desde pequeno, sempre cativei uma relação ímpar com cavalos, por ser do interior e filho de laçador. A primeira memória que me vaga a lembrança é aos 2 anos de idade, quando me colocaram no lombo de um. Era tudo tão grande e intocável lá de cima, parecia que eu conseguiria alcançar o céu com as mãos, sem muito esforço, porque eu já ultrapassava o topo das pessoas, apenas com os meus olhos.

O tempo passou e fui me aquerenciando cada vez mais com os equinos. Aprendi a tratá-los, colocar o boçal e cavalgar sozinho, sem que ninguém precisasse puxá-los pelas rédeas para mim. Era uma troca, ao mesmo tempo em que eu os guiava, eles me conduziam. Quando completei 8, meu pai comprou um rosilho crioulo, chamado Cigano. Me lembro como se fosse agora o caminhão descarregando o animal num domingo à noite, ainda meio afoito, estranhando a “nova casa”. Passaram-se algumas semanas até que eu me aproximasse dele por completo, mesmo assim algo em mim ainda o fazia ficar arisco. Eu tinha medo e ele sabia. Sentia na minha respiração a confiança tremer.

Andei algumas vezes com ele, mas não tinha coragem para galopar. Passos e voltas curtas. 1 ano depois, numa bela manhã ensolarada, por insistência da minha irmã (que é uma excelente amazona), montei nas costas do animal, e sai trotando pela rua de casa. Ao virar a primeira esquina, ele já não obedecia aos meus comandos. De repente, disparou pela rua como se tivesse sido mordido por uma abelha. Corria tão ávido e independente, sem se importar comigo (que nessas horas já estava aos berros, parecendo uma sirene policial), subindo a quadra de volta para casa. Não caí, mas foi por pouco. Meu pai o parou e imediatamente eu quis descer dali, mas ele me fez ir até o pátio de casa montado no bicho.
Naquele momento, jurei que nunca mais iria montar, nem se me pagassem com barras de ouro.

Durante 4 anos permaneci longe daquela altura equestre. Ainda conseguia alimentar e sentir empatia pelo animal, porém ele havia traído minha confiança. Aos poucos, com muita conversa e incentivo, eu e o dito cujo fizemos “as pazes”, e só então tive coragem para deixá-lo me guiar de novo, e de novo, e mais uma vez, até sentir firmeza para conseguir correr, sem medo. Dali em diante me senti livre, porque superei o pavor que ele tinha me feito sentir e tornou-se meu parceiro, novamente. O Cigano já se foi há algum tempo, porém ensinou algumas coisas além do seu nome com ar de mistério.

Bem como os cavalos, as relações e situações da vida podem ser desastrosas e fatais, quando não as encaramos de frente. Por horas a gente até contorna algumas delas com o tempo, por outras apenas com saudade ou arrependimentos. Tudo é tão inerente e proveitoso, que mesmo os erros mais devastadores, acabam se tornando aprendizado, com o andar da carruagem. Por isso, quando passo por algum perrengue, lembro imediatamente daquele dia, pois mesmo que a coisa esteja ruim e fora de controle, preciso de calma para aceitá-la e força, para que eu consiga dar o meu melhor. Por mais que o medo possa me pegar de surpresa, daqui pra frente, eu sei que sou o único capaz de me dominar para que ele não me derrube novamente.

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