Não sei exatamente como aconteceu ou quando aconteceu. Não é um botão que eu desliguei, mas de repente – não mais que de repente – eu parei de me importar que você não mandava whatsapp na quinta-feira à noite depois da sua aula de inglês. Que você não me dizia mais quais músicas faziam você se lembrar de mim, ou quando algum personagem de livro tinha a mania de enrolar os fios de cabelo entre os dedos e fazer mini tranças do mesmo jeito que você me vê fazendo quando estou entediada. Nem mesmo opiniões sobre os olhos enormes de alguma princesa, a risada escandalosa de uma vilã ou o quadro parecido comigo da criança naquele desenho que os monstros precisam atacá-las para encher a cidade de energia elétrica.
Houve esse momento em que não existia mais empatia: nem eu conseguia me colocar no seu lugar tampouco você conseguia me entender. Como uma cidade que cresce rápido demais e os prédios invadem os terrenos, que antes abrigavam um ou dois casebres, de repente – não mais que de repente – éramos estrangeiros um ao outro.
Ainda que falássemos a mesma língua, que até uns meses atrás fôssemos confidentes… alguma coisa aconteceu. Não foi um botão nem uma discussão, tampouco uma frase dita errada. Foi muito além. Foi o não ouvir nada. Nem um pio. Sequer lembrar do que estávamos falando minutos depois de conversar. Um dia eu olhei para ele e não é que eu parei de enxergar nosso futuro, só não enxergava um em que estivéssemos juntos. Ao construir tantas coisas nova, esquecemos de nos fortalecer.
A vida passou e, com ela, nossa história.
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Agora não eram mais pilastras, eram incertezas. As janelas davam para lugares vazios que esquecemos de preencher com nossas risadas, nossas piadas internas. Agora a alegria só vinha se fosse de visita. Tudo ficou automático. Lembra daquela batedeira que você insistiu em comprar e jogou fora bravo porque não deu certo na tomada de casa Agora eu era a batedeira antiga no seu universo de tomadas padronizadas.
Eu não era mais a primeira opção para contar uma notícia boa quando você foi promovido, eu não era opção alguma. Parei de me importar quando a gente ia dormir sem dar boa noite pro outro. Na nossa última foto no Instagram, meses atrás, eu dizia que seus beijos me tiravam o fôlego, hoje eu já nem sei se quero você no meu feed mais.
Substituí os recados que deixava na geladeira por avisos para você não esquecer de pagar as contas, e aos poucos a gente foi esquecendo como era amar o outro. Um dia eu percebi que era mais gostoso me esticar na cama sem alguém do meu lado. Tomar banho sem ter que esperar você se secar. Trocar de roupa e sair para assistir um filme sozinha, porque até a minha solidão era uma companhia melhor. Eu não queria esperar ninguém.
Não sei exatamente como aconteceu ou quando aconteceu. Não é um botão que eu desliguei, mas de repente – não mais que de repente – aos poucos a gente foi esquecendo como era amar o outro. Eu queria dizer isso para você. Acho que você queria dizer também. Então você soltou da minha mão como se tivesse ensaiando, olhou nos meus olhos fingindo se importar e eu devolvi seu olhar preocupado. Parecia que você ia perguntar se estava tudo bem, parecia que hoje teríamos a conversa final e cada um seguiria para um lado, mas você não conseguiu. Algo parou você – era tédio ou era automático demais? Medo, talvez. Ou só… tédio. Era um ótimo dia para gente terminar, mas começamos uma série nova e resolvemos deixar para amanhã.