[Você pode ler este texto ao som de Catch Me]
Olá,
Se eu paro para pensar agora, você estava lá desde o primeiro dia. Literalmente, desde o primeiro momento. Eu só não gostei de você na época. E um tempo depois. E mais um tempinho. Mas e daí?
Eu acredito de verdade que quando as coisas têm que acontecer, elas acontecem. E da forma mais estranha se preciso, mas acontecem. Eu nunca passava por aquela rua. Nunca. Eu nunca tenho vontade de tomar café às 16 horas. Isso não é nem o meio do expediente… Mas eu tive aquele dia. E eu te encontrei no elevador. E por algum motivo, você quis meu telefone. Eu ri de nervoso.
Minha amiga tinha me dito que você beija bem demais. E eu achei graça, porque de todas as informações que ela podia me dar essa pareceu a mais sem propósito. E foi engraçado, porque mesmo assim eu achei que era brincadeira. E achei que era brincadeira quando você segurou a minha cintura. E achei que era brincadeira quando senti seu nariz perto da minha nuca. E depois a sua boca no mesmo lugar. E quando eu virei pra ver nos seus olhos o que tava acontecendo, e eu não consegui decifrar. Mas aí eu beijei você, e de novo, e de novo. E tinha gosto de alguma bebida alcoólica doce que eu não conhecia, e alguma coisa de cigarro que eu não tinha certeza, e alguma coisa a mais que me fez querer de novo. E de novo. E de novo.
“ELE BEIJA BEM À BEÇA, NÉ?”.
É. Demais. Você beija bem à beça, mas nem foi aí que você me ganhou.
Porque depois tocou uma musiquinha sertaneja no ônibus voltando pra casa, e eu nem gosto de sertanejo, e você falou: que vontade de ficar de casaaaaaal com alguém. E o seu braço já estava envolto no meu ombro e minha cabeça já pendia para perto da sua boca. Ninguém nem precisou rir e falar pra você me beijar, porque eu já estava beijando sua boca doce de novo, e isso foi só um pouquinho antes de você me chamar pra dormir com você.
Eu achei no início que você tava bêbado e queria só uma noite de qualquer coisa. E não, isso não era problema. Eu só não ia ter uma noite de qualquer coisa com você porque eu sabia que você ia me esquecer de manhã e isso já ia doer um pouquinho se a gente tinha só se beijado, se passasse disso, ia doer mais e eu não queria. Mas nem meia hora depois eu estava passeando com a minha mão pelo seu corpo sem camisa e beijando um monte de lugares do seu corpo, me perdendo no homão que eu te diria ser uma semana depois, e riríamos da minha falta de jeito. E eu ainda ficava me perguntando, como alguém tão bonito tinha me encontrado, e me desejado, e como você conseguia sorrir de forma tão bonita quando eu te dava um beijo no queixo ou na bochecha, como você parecia gostar das coisas simples, do pequeno cafuné ou do beijinho mais demorado sem muita malícia.
Um pedaço de mim continuava achando que tinha sido só um acidente, e que nada daquilo ia acontecer de novo, e que a vida seguiria e que agora que a gente já tinha ficado você ia achar alguém mais bonito ou mais interessante, mas alguma coisa fez a gente conversar de novo e se ver mais uma vez, e quando eu dei por mim eu estava indo levar um doce de baunilha e verde pra você em pleno horário de almoço, no escritório que não era o meu mas que eu amava por ter aquelas plantas bonitinhas, e no dia eu descobri que lá tinha mais uma coisa pela qual eu ia me apaixonar: o sorriso surpreso e sincero que me desmontou. Eu nem sabia que era possível alguém sorrir daquele jeito quando olhasse pra mim, e você fez isso. Eu ainda não entendo.
Nós tivemos as nossas noites de carinho, iluminados por uma luminária e com músicas de todos os estilos que embalaram a gente nos mais diversos beijos e cafunés, nós tivemos as nossas noites de “só deita aqui comigo e fica”, e eu juro. Eu ficava. Eu ficaria mesmo. Mais uma noite, ou duas, ou três, ou todas.
E foi por isso que doeu tanto quando logo na última você disse tudo, e eu percebi que mesmo em todos os nossos encontros a gente se desencontrou tantas vezes. E se eu soubesse que a cada abraço, a cada toque e a cada segundo você queria ter ficado, eu me faria de morada pra gente não ter que se dar tchau.
E sobre “tchau”, essa foi uma palavra que eu não consegui dizer pra você. Porque mesmo depois de atravessarmos a rua de mãos dadas e chorando e mesmo depois do beijo (que dessa vez tinha gosto de lágrima e despedida), eu sei que ainda não tinha motivo pra te dar tchau.
E embora eu soubesse esse tempo todo que “every hello ends with a goodbye”, eu prefiro pensar que a gente vai cumprir a promessa de se ver de novo, de se dar mais um beijo e de pertencer um ao outro pelo menos mais um pouco, porque eu sei que o tempo foi injusto com a gente e passou depressa demais, logo quando ele deveria ter demorado.
Eu acredito em você agora, e por mais que eu não consiga terminar essa carta/texto/testamento pelo simples fato de que não consigo colocar pontos finais onde preciso colocar reticências, eu preciso encerrar como fiz presencialmente (mas infelizmente, sem o beijo).
“Just catch me”.
Sinto sua falta todos os dias.
E o beijo, eu te daria aqui.