É seis da tarde quando eu choro pela primeira vez. Me tranco no carro e deixo sair tudo o que ficou entalado na garganta o dia inteiro. As lágrimas que não caíram na frente daquele colega de trabalho, ou quando minha melhor amiga ligou e perguntou se eu tava bem, ou na hora em que minha mãe mandou uma mensagem dizendo que na casa dela tinha um colo quentinho pra chorar. Segurei as lágrimas porque eu sempre seguro tudo – seguro a onda, o grito, a vontade de jogar tudo pro alto. Seguro a barra de ver tudo acabar outra vez.
É que eu não sei dizer adeus pro amor de uma forma fácil. Tem jeito de fazer isso? Alguém consegue deixar um amor pra trás sem essa sensação de que perdeu o jogo mais importante do ano e agora precisa reformular o time inteiro antes de disputar o campeonato outra vez? Deve ter gente que sabe lidar com fins melhor do que eu, mas, pra mim, fim de amor sempre machuca a alma. Mesmo quando sou eu que pulo fora.
Por que mesmo eu ainda insisto nisso? vou me perguntar à noite, quando a solidão da cama me invadir o peito.
Talvez eu insista porque tive aquele que me dava o melhor colo do mundo. E aquele que me fez correr atrás dos primeiros sonhos. Acho que insisto, principalmente, porque tantas vezes tive quem me ouvisse, quem me abraçasse na hora do desespero e até quem esfregasse a verdade na minha cara quando eu estava errada. Pelas noites de pernas entrelaçadas e alma tranquila. As tardes de domingo jogados no sofá, assistindo episódios seguidos de alguma série na Netflix. Pelas vezes que me senti necessária, porque também dei colo, apoio e incentivo. Pelos carinhos, os cafunés e os pedaços de vida divididos enquanto deu.
Insisto no amor porque, de alguma forma, todos ficaram – ainda que, na verdade, todos tenham ido.
Amor – quando é amor mesmo e não outra coisa qualquer que nos confunde – é sempre bonito.
Então me tranco no carro às seis e choro. Daqui uma semana, talvez esteja recuperada e siga a vida – sempre sigo. Mas vou chorar o fim de mais um amor, um pouco que seja. Vou me permitir a barra de chocolate e o travesseiro molhado e o colo da minha mãe e dos meus amigos. Um, dois, dez dias se precisar. Vivo o luto do pouquinho de amor que ainda existe.
Porque o fim do amor é sempre triste.