[Você pode ler este texto ao som de What Happened To Perfect]
Os intermináveis minutos em silêncio que a gente ficava tentando preencher com conversas vazias – em algum momento, o silêncio ao seu lado foi se tornando dolorido ao invés de confortável. O gosto amargo que ficava na minha boca cada vez que a gente discutia por algum motivo idiota na frente dos nossos amigos. E a impressão de que nosso relacionamento tinha se transformado num café morno e fraco.
Eu quero que tudo isso fique.
A dor no peito, sabe? Quando eu olhava pra nós dois e percebia que a gente tinha perdido a chance de acabar enquanto ainda era tempo. Enquanto ainda era bonito. E eu sei, e você sabe, que a luzinha piscou lá atrás, mas a gente preferiu não ver e foi dando errado de lá até aqui. Só que não era pra gente achar que deu errado depois de ter dado tão certo. Era?
Os porta-retratos quebrados, as mensagens sem resposta, as noites frias com cada um num canto da cama e um abismo no meio. Os xingamentos que a gente gritou no meio das discussões. E as vezes em que eu me tranquei no banheiro e você dormiu no sofá.
Cada manhã em que eu acordei sozinha e você já tinha ido embora sem nem me deixar um bilhete. E eu me perguntando: o que foi que aconteceu com a gente?
Não é isso que eu quero levar.
No meu ano novo – e no seu também – não quero todas as lágrimas. Não quero o sangue do fim, o piso riscado por causa das cadeiras arrastadas no meio da briga, as músicas que não consigo mais ouvir porque me lembram de você.
Quero a calma do ponto final quando não há mais texto a ser escrito. Quero a lembrança bonita do começo quando o peito não tá repleto da dor dos últimos dias. Quero a paz de parar de requentar o amor que um dia foi. Porque amor requentado estraga.
É ano novo, amor. E eu não quero que a gente se acerte. Eu quero é que a gente fique nos anos passados – eu e você. E que fiquem as memórias. Só as boas, se der.