O nosso amor era uma caixa de chocolates gourmet


Ei, eu não sei se eu já lhe disse isso, mas o nosso amor pareceu uma caixa de chocolates gourmet. Eu realmente não lembro se alguma vez eu lhe fiz essa metáfora, mas eu sempre achei o amor uma dessas raridades tão gostosas dignas de serem saboreadas aos poucos e delicadamente. Não se devora de uma só vez uma caixa de chocolates finos, não é mesmo?

Eu lembro a primeira vez que você trouxe uma caixa de bombons importados para casa: nós demoramos quase um mês para comer tudo. Aos poucos, descobrimos sabores: trufado, amêndoas, pistache, marzipã. Começamos pelos amargos, passamos pelos ao leite, enfrentamos os brancos e, de repente… havia somente um bombom na bandeja. Parecia impossível que esse dia chegaria, mas sempre estivemos fadados ao fracasso do final da caixa. E, então, era isso: havia chegado o dia de comer o último bombom. Mas nem você e muito menos eu queríamos toca-lo. Embora soubéssemos que não comer era só uma estúpida maneira de adiar o inadiável.

É, eu sempre achei que o amor fosse uma caixa de chocolates gourmet. Eu só nunca esperei que a consumiríamos até acabar. Ingenuamente, pensei que teríamos infinitos sabores novos e diferentes por descobrir. Eu sonhava com o dia de comer o segundo ou terceiro bombom de cereja. E era tão feliz quando surpreendentemente escolhia um dia sabor Nutella. E aprendi a mastigar as pastilhas de chocolate meio amargo com menta nas noites de insônia. E quando eu achei que tivesse aprendido tudo sobre a lógica dos chocolates e da vida, quando eu realmente acreditei que nenhum sabor me surpreenderia mais, faltava apenas um bombom. E começamos a adiar o inadiável.

E você me olhou fixamente esperando que eu o mordesse. Eu hesitei. Embora soubesse que estávamos fadados ao fracasso, tive medo da caixa vazia. Por um instante, todos os sabores que provamos juntos estavam novamente em meus lábios. Eu tive vontade de voltar no tempo, abraçar a caixa cheia contra meu peito e guarda-la da mesma maneira como você me havia dado. Eu realmente desejei voltar à primeira mordida. À descoberta do primeiro bombom de cereja e daquele copinho mesclado com chocolate ao leite e branco. Eu lembrei do sentimento curioso quando descobri o que era pistache. E você, que já tinha vivido tantos dias de pistache, me dizia que sim, eles passavam. Ah, eles passariam.

Então, de repente, o que nos sobrara era o risco. Assumimos o incerto destino de experimentar o amor. De abrir a caixa. Tiramos a fita, provamos os primeiros bombons. Depois, mais alguns. E outros. Estava claro que sem risco não haveria descoberta. É preciso arriscar-se para ser feliz, pois uma caixa de chocolates fechada não tem sabor de nada. Mas, depois de aberta, é uma jornada sem volta. É uma deliciosa e delirante jornada rumo ao esgotamento. Somente quando sobra um bombom na caixa é que percebemos o quanto, de fato, fomos felizes no durante. E tudo que provamos juntos, cada gostinho diferente que ficou nos lábios e invariavelmente todas as manhãs deliciosas serão para sempre nossas. E não, ninguém consegue voltar no tempo depois que um coração provou tudo isso. É fato que fomos feitos para acabar: o chocolate; o amor; a vida. Mas também temos o desejo pelo eterno: a lembrança; o recomeço; a jornada.

Eu sempre achei que o nosso amor fosse uma caixa de chocolates gourmet. E eu não estava errado. Agora, com apenas a memória nas mãos, tanto tempo depois de mordiscar aquela última dose de felicidade, eu compreendo que o que importa do amor é o durante. É o “enquanto somos” e não o “depois que fomos”. A bandeja sem chocolates está repleta de aprendizados e quem eu sou já não é mais quem eu era. É inacreditável que daqui em diante continuo sozinho, mas foi delicioso ter aprendido com você. E isso importa. Importa muito.

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