Por que eu nunca fiz aquilo tudo que eu sempre quis fazer?


De uns tempos para cá, tenho me preocupado mais em pensar sobre aquilo que nunca fiz. Não sei bem se é a proximidade dos vinte e cinco anos e é a tal da crise que está prestes a derrubar a minha porta e se instalar aqui por dentro, mas tenho parado, admito, para me perguntar: por que não? Uma das minhas muitas resoluções – que envolvem coisas menores, como aprender a dançar flamenco, passar um final de ano no Caribe e descobrir como é possível seduzir com um olhar por cima do ombro – é começar a tentar.

Tentar. Fácil assim, simples assim. Tentar expressar a quem nem conheço bem que existem certas coisas que deixam meus joelhos trêmulos e tentar chamar, como quem fala qualquer coisa banal, para um café com conhaque às seis horas da tarde de uma segunda-feira de chuva que, meu Deus do céu, nem deveria ter começado. Eu posso ser a salvação de uma segunda-feira de chuva que nem deveria ter começado para alguém, no fim das contas, não posso? Não é por aí que eu quero ir, talvez. Veja, eu tenho uma tendência grande a não ir direto ao ponto por medo. De quê? De muita, mas muita coisa. Lá se vão anos e anos aprendendo a ter receio de tudo. É uma desgraça essa criação patriarcal e encaixotada. Às vezes me dá medo de falar, como se falar não fosse a coisa mais básica de todas as coisas básicas e não fosse responsável pelo princípio da civilização e pelo desenvolvimento de todas as culturas. Pensando assim, falar parece uma coisa grande pra cacete. Acho que não quero ir por aí também.

Respiro fundo pra organizar meus pensamentos e dizer que: toda essa introdução pouco jeitosa é a minha maneira de transmitir toda a minha avassaladora vontade de comunicar a existência das minhas ânsias de você. Parágrafo após parágrafo de verborragia besta e tudo o que se encontra por entre as linhas é essa coisa inominável, perturbadora, gri-tan-te que é desejar suas minúcias em segredo, criando versões aprazíveis de você na minha cabeça.

Eu gosto de todas as coisas que acho que você é e uma das coisas que está na minha lista – logo depois de “TENTAR”, veja você – é aprender a não gostar de coisas que não conheço tão a fundo, que só inventei para me sentir melhor. Entende? Não faz sentido, de fato. É só um escape. É um medo de se expor e de procurar saber verdades que me parece característico de toda a minha geração. Que venha a decepção, se preciso for, mas que venha o empírico, o real, o experimentado. Estou cansada de viver as coisas no plano das ideias, acho que é isso que eu quero dizer. Quero contar com boas surpresas e também com as decepções, desde que eu saiba que qualquer resultado foi fruto da minha entrega verdadeira e da minha tentativa e veio porque tive coragem de apostar as minhas fichas em algo que é humano, vivo e sem lógica alguma.

Seguindo as linhas deste descompasso, convido: vamos sentar para a ver a vida passar naquela lanchonete pela qual passamos todos os dias? Dizem que o café com conhaque dali é de beber ajoelhado. Que seja esta a minha primeira tentativa – e que ela venha assim, honesta e viva, sem um rodeio a mais sequer.

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