[Você pode ler este texto ao som de Mantra]
Nunca encarei a solteirice como um problema. Mesmo sendo um carentão assumido, sempre tive consciência de que vim a este mundo sozinho e irei embora dele da mesma forma. Por vezes, me pego morrendo de medo do apego, não que seja ruim apegar-se, mas entendo que ele é desnecessário, quando se faz exagerado, querendo saber demais sobre escolhas que não me pertencem.
Namorei algumas pessoas ao longo da minha curta experiência de vida, e ainda vou namorar, me apaixonar, chorar, me declarar e me esquecer de tantas outras, tão facilmente quanto estas (mesmo que eu não queira). Só acaso é capaz de pontuar qualquer tristeza com um recomeço, mas não apaga as cicatrizes que o tempo nos deixa, e é exatamente por conseguir remediar os tropeços que não os cura totalmente, para que a gente consiga se lembrar de todas as vezes que não pudemos carregar nossas próprias expectativas, e elas acabaram nos machucando.
Desinstalei o Tinder e todos os aplicativos de pegação. De nada adiantaria forjar a naturalidade dos encontros, se eu continuasse mecanizando-os através de falsas intimidades, criadas para que fossem agendadas por cafés na Paulista e barzinhos na Vila Madalena, de acordo com a minha disponibilidade e paciência diárias. É difícil (e muito), desapegar-se desse “modus operandi” que sempre termina em um game-over de sofá.
Talvez o meu príncipe encantado esteja por aí, tomando uma breja com os amigos e jogando conversa fora, lamentando os fracassos de um relacionamento infundado. E, quem sabe, minha princesa cansou de esperar por quem não vem, plantada no alto do uma torre, e resolveu se divertir com o lobo mau atrás de uma das pilastras do prédio em que mora, só pra ver se a boca dele é realmente para comer melhor ou apenas papo furado de um metidão a conquistador, que mal consegue fazê-la chegar a um orgasmo.
Demorei, mas entendi que ninguém ficaria do meu lado por obrigação e sim por opção, e que se eu tivesse encontrar a felicidade por fora, antes de descobri-la por dentro, ela seria tão descartável quanto uma trepada sem compromisso e sem graça. O amor da minha vida está naquilo que me dá prazer, nos abraços cheios de saudade que dou nos meus pais, toda a vez que os vejo, nas dores de barriga que eu tenho, de tanto rir, quando estou com os meus melhores amigos e no simples ato de respirar e me sentir pleno, a cada pulsação que o meu coração entorna para dentro com tanto afinco.
Tudo o que preciso, encontro em mim, independente do meu status de relacionamento. Quando me olho no espelho, percebo que sou o único responsável pela rotina do cara que ali reflete o início de uma calvície bem-humorada e cheia experiências. Se ninguém chegar ou se interessar por esse mesmo cara, tudo bem, só ele sabe a dor e a delícia de todos os seus defeitos e manias. Hoje ele entende, mais do que nunca, que não precisa de um amor pra vida inteira, pois aprendeu a viver como se fosse morrer amanhã.