Você é o nome da minha saudade


[Você pode ler este texto ao som de Not Like The Movies]

Outro dia vieram me perguntar o nome da minha saudade, e eu nem precisei chamar você.

E aí eu coloquei aquela música que a gente adorava, e deixei as lembranças me afundarem na esperança de me sentir mais confortável.

A gente se conheceu naquele aplicativo de relacionamento. Lembra que eu te contei que tinha instalado ele no celular só pra brincar com a minha amiga? Era verdade. Só que no meio daquela brincadeira um sorriso me chamou atenção. O seu. E aí, quando eu vi meu dedo já tinha corrido pro coraçãozinho verde, e olha só, aconteceu a famosa combinação.

Fiquei com um sorrisinho bobo do tipo: gente, ele me deu um coraçãozinho de volta.

Eu nunca tive muita fé nesses aplicativos, todo mundo dizia que era cheio de gente vazia. Mas eu tava lá, e eu não acho que eu era vazio. Eu estava sozinho, mas não vazio. Quem sabe no meio de tanta gente sem conteúdo, não tem ninguém que, como eu, está aqui tentando a sorte?

E quando a gente já estava de números trocados, descobrindo como amávamos as mesmas músicas, os mesmos filmes e, surpreendentemente, completando frases um do outro, eu fiquei um pouco mais acreditado. “Ó, eu acho que achei uma pessoa legal nesse aplicativo, viu?”. Você dizia que não deveria dizer, mas já estava apegado a mim. E eu não devia começar, mas quando eu vi já tinha te convidado para um encontro.

Um tempão no ônibus depois eu vi você e não foi nem de perto o que eu esperava.
Foi muito maior.

Um sorriso numa dela apareceu de verdade na minha frente. E eu te dei um abraço, mas um abraço contido, que era com medo de você assustar. Queria assim, te ter aos pouquinhos pra ver se durava mais.

A gente durou alguns frios na barriga, algumas madrugadas acordados de papo um com outro. A gente durou um tempinho suficiente para eu conhecer algum dos seus medos, mas um medo meu você não soube: era o medo que eu já estava tendo de perder você.

E fui perdendo mesmo. Como um aplicativo que perde a graça, um celular que vai perdendo a bateria, você foi se afastando de mim como tivesse que ser assim. Com data de validade que não me informaram.

E aí, um dia desses, depois de tanto tempo, me perguntaram o nome da minha saudade. Eu me lembrei do seu sorriso e das covinhas que apareciam na sua bochecha quando eu chegava com um abraço pra você. E lembrei também da sua paixão pela sua cachorra, pelo twitter na madrugada, por aquela cantora que você foi tão longe pra ver.
E eu nem chamei seu nome porque você não estava por perto.

Eu só sorri pra mim ao lembrar de você. Você é o nome da minha saudade. Mas só o nome, porque se fosse presença, seria afeto. E a saudade ficaria pra outra hora…

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