O que realmente significa quando alguém diz “Precisamos de um tempo”


[Você pode ler este texto ao som de Everybody’s Gotta Learn Sometimes]

A dureza do amor é o imaginar como um belíssimo script, mas ter que o reescrever com certa frequência, readaptando-o. Ainda que vivamos na mais completa modernidade, o amor segue retrô, sua eternidade nos interessa, e essa ideia parece-nos cada vez mais aprazível, mesmo que não saibamos o motivo. O nosso mal, no entanto, é buscar no amor uma linearidade quase inexistente – PÁ, ele grita na nossa cara que ele é torto, desalinhado. O que parece o final pode ser um começo; o começo, final; o meio alongar-se a ponto de criar outros caminhos. E disso nós sabemos.

Entretanto, ainda assim, quando ouvimos o famigerado “preciso(amos) de um tempo”, a primeira sensação é a da pá de cal em qualquer coisa que, até então, pensavam existir naquela relação, mas, na verdade, apenas jazia – não morto.

Nessas horas em que o amor clama por um tempo, urge atendê-lo, e essa é a única pressa que deve ter: dê-lhe o que é pedido, dê-lhe de verdade o que é necessário. Mesmo que soe como um prelúdio do fim aos ouvidos, tem mais jeito de recomeço. A questão é: Não adianta querer arrancar qualquer coisa de uma relação a fórceps, levando-a ao limite da paciência, ferindo ainda mais um combalido um sentimento, ferindo-se, transformando uma pessoa querida em non-grata. Por isso, o tempo.

O tempo, mesmo que não seja fácil – não é um gesto de altruísmo, e as agruras são bem conhecidas -, se com a maturidade que lhe é exigida, pode ser benéfico, desde que seja respeitada sua principal característica, que é o de durar o quanto necessário, sem o vício imediatista que tanto mal nos faz.

Sei que é uma grande tentação falar dos dissabores, entretanto, valemo-nos, por um instante, pelo viés positivo, e que aponta para esse intervalo dentro de uma relação como mero pit-stop. Logo, lembro-me de um conhecido, e tenho como base as conversas que tivemos.

Não conheço quem aproveite o cotidiano da mesma forma quando numa situação dessas, mesmo que outros falem uma suposta liberdade – o que cada um fará nesse interim compete à consciência, claro, e a um acordo implícito; sabemos de nossa condição de humanos, e que essa consciência está para uma pessoa do mesmo modo que x para a matemática. Não nos culpemos em vão. Sigamos… – para essa pessoa, passando longe do fato de um amor saudável ser uma prisão. O vínculo é forte o suficiente para invadir o pensamento a qualquer hora, basta divagar um pouco mais. Não há uma ruptura abrupta que separa as partes, nota-se uma grande elasticidade dessas relações.

As lembranças, por sua vez, ganham ares de projeção cinematográfica da década de 50, tamanha a nostalgia que aparece quando são contadas; no entanto, na entonação da voz, há um lamento suave de quem não se encontra de corpo e alma naquele instante em que é vivido. É um ser fora de seu tempo vivendo uma realidade paralela.

E mesmo que tudo seja posto numa balança, para uma análise mais fria do passado-presente-futuro do relacionamento, a cruel avaliação dos pontos positivos e negativos, a tendência é de uma chance. O distanciamento de um amor forte amplifica vozes internas que, antes, pareciam inaudíveis, fazendo ressoar dentro de si o eco por aquele amor quase pueril que tantas vezes abrilhantou os olhos. Como esquecer disso?

Sempre há o carinho, e há ternura, e há paixão; é uma questão de tempo e sempre vai ser. Desde o começo, cada qual com o seu, até que estejam em perfeita sincronia para ser atemporal. O amor não é óbvio, nem nunca será… E é essa falta obviedade que o torna tão especial.

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