[Você pode ler este texto ao som de Segunda-Feira]
Conseguisse despertar o meu pior lado, foste a lugares em mim que nem mesmo eu ousei entrar antes. Pelas tantas vezes que dilatei as pupilas por tua causa, entre amor e ódio, percebi que gostar de ti, certamente, fora a pior droga que eu já havia experimentado. Cedi as tuas tempestades, cuidei delas como se fossem minhas, para que depois me deixasses tomando chuva sozinho. Eras um calote com cara de loteria, desses que causam raiva só de lembrar.
De veras, sou o culpado, sei disso. Mas quem não seria? Quem, no meu lugar, não teria tentado as tuas tentações com vara curta? Bem que eu tentei acreditar nas tuas justificativas ensaiadas, depositei o pouco de fé que eu ainda tinha naquele drama sobre estar passando por uma fase difícil (meu pau de óculos que estava).
Juro por tudo que há de mais sagrado, que eu poderia ter ido ao inferno te resgatar se eu soubesse onde é que te doía tamanha tristeza. Seria capaz de levar a tua insegurança pra casa comigo só para acalmá-la dizendo que ficaria tudo bem, mesmo sabendo que não.
Sempre preferi sentir saudade à remorso, até o dia em que me dissesses que o problema não era eu. Claro que era, sempre fui eu o excesso que nunca faria falta, prólogo das folgas estreitas sobre algumas horas em que tu não tinhas nada pior para fazer. A diferença é que eu realmente me importava. É que pra ti, eu sou indiferente. Um calendário do ano passado, que tu tropeças todas vezes que precisas enganar a saudade de alguém em outro corpo.