Eu sempre achei que me adaptava fácil às novas rotinas. Se precisar acordar cedo, acordo. Se precisar fazer o turno da noite, eu me viro para botar o sono em ordem. Se eu cortar radicalmente o cabelo, duas olhadas no espelho bastam para eu reconhecer aquela pessoa. Por isso foi tão fácil acreditar que eu iria me acostumar com a sua ausência. Mas até agora…
Ainda não achei uma mão igual a sua, que tinha o tamanho certo para guardar a minha. Também não encontro suas pequenas gentilezas. Eu ficava tão orgulhosa quando você fazia uma pessoa qualquer na rua sorrir. “A senhora fica muito bonita de chapéu!”, e ela corava feliz. “Não fica com ciúmes, amor! Você fica bonita com chapéu, sem, careca ou toda cabeluda”, você complementava ligeiro.
E aí eu me pergunto: e quando a gente não se acostuma com o vazio que fica? É raro, mas acredito que algumas pessoas, quando grandes demais nas nossas vidas, deixam esse rombo que nada preenche e que tudo faz lembrar. E se nenhum dos meus risos chega perto dos que eu libertava quando eram com você? Eu tô nessa.
Outros bocas já passaram por aqui. Outros corpos. Outros gozos. Não que tenham sido ruins. Mas quando era a gente… A gente encaixou tudo de primeira, sabe? E não acho mais quem tenha o mesmo efeito. Talvez porque eu tenha ficado com as suas medidas e formato. Eu detesto gostar de alguém e, lá no fundo pensar que não é você ou que, com você, não era assim.
Quando a gente não se acostuma, parece que vamos para um mundo paralelo. Inverso. Onde quem foi ainda vive, mas não está. Não consigo me acostumar com a ideia de você com outro alguém. Essa imagem me causa estranheza. Não sei se é ciúme ou o que. Mas parece que o buraco que ficou aqui dentro aumenta e me vejo dentro dele por completo. Aliás, quase, porque você não está para eu ser inteira.