Sou um jovem idoso


[Você pode ler este texto ao som de Who Says]

Nunca fui muito convencional aos olhos da minha juventude. Não que eu não saiba me divertir, mas provavelmente meu tipo de diversão é outro. Fosse pelo cansaço de sair de casa ou até mesmo por focar o meu interesse em algumas páginas de livros ou episódios de série, sempre preferi o aconchego. Meus amigos até já desistiram de me chamar, eles sabem que sou um idoso de 24 anos, desses que não se rende fácil para noitadas barulhentas.

Me dá canseira só de pensar em balada. O som tão alto que compassa o coração no embalo de um bate estaca, luzes que brilham despretensiosamente em nossos rostos e drinks que confundem até o mais cético dos filósofos de internet. Consigo contar nos dedos de uma mão, as festas que fui durante o ano. Prefiro um bar, desses que a gente senta e o garçom já vem com ares de melhor amigo, perguntando o qual é a boa. Cerveja, vinho ou água.

Sou do tipo de pessoa que dorme com o ar condicionado/ventilador ligado, só pra poder se cobrir. Passo horas zapeando na Netflix, pra acabar assistindo quase sempre a mesma coisa. Se a minha cama soubesse o quanto eu a amo, talvez ela desse um jeito de esticar os lençóis sozinha, antes mesmo que eu chegasse do trabalho. Gosto de ouvir os mais experientes e não dispenso algumas horas de conversa com o meu pai, nas poucas vezes que nos vemos de janeiro a dezembro. Ando a cavalo, muitas vezes, sozinho enquanto me empolgo com as coisas boas que ainda estão por vir. Sei jogar baralho e ouço tudo, desde MPB até sertanejo. Amo viajar de mochila e tomar banho de cachoeira, para me limpar de todo o caos que vivo durante a minha rotina a lá selva de pedra.

Muitos podem pensar que esse seja um modo pífio de levar a vida, que talvez eu esteja desperdiçando experiências, amores e tudo mais. Mas veja bem, eu não solicitei a opinião de ninguém. Aprendi a decidir, mesmo errando, os passos que norteiam as minhas escolhas, através de alguns relacionamentos e muitos porres por aí. Tenho sonhos, vontades e boletos, iguais e diferentes aos de todo mundo. Sou um homem, com ambições de um guri, sou simples demais para exageros, e não ousaria julgar quem quer que fosse por fazer diferente.

Sei que tem valido a pena, até aqui, porque a saudade me faz abrir um sorriso de orelha a orelha, mesmo em dias nublados. E por mais que às vezes eu esmoreça com algumas situações, não me arrependo de cativar hábitos ditos tão ultrapassados ou cafonas. Sou um eterno clichê, como o meu próprio apelido entrega. Um Zé, sem eira nem beira, que sabe valorizar aquilo que tem, sem abrir mão daquilo que gostaria de ser.

Comentários