[Você pode ler este texto ao som de Chasing Cars]
E se a gente deitasse aqui e ficasse só olhando pro teto? Sem falar, sem grandes discursos, sem abraços, sem nada. Só nós dois na cama que ainda dá pra chamar de nossa, só mais um pouco. Depois acaba. Depois eu arrumo minhas coisas e vou embora, você começa a arrancar minhas memórias da casa. Depois eu sigo a minha vida, você a sua, a gente deixa de falar um do outro pros nossos amigos e eu deleto seu telefone do meu celular. A gente segue o script dos fins, como qualquer outro casal. Mas depois.
Agora a gente só ficaria aqui, nós dois, a cama e o teto, e o barulho alto da rua de uma madrugada de sábado no centro de São Paulo. Pode ser? Não é loucura, nem é mais amor, nem vontade, nem tesão, não é nada disso. É só saudade. Sabe? Saudade do começo, de lembrar como era quando a gente queria ficar.
Me responde: a gente pode ficar só mais um pouco? Só mais cinco minutos de nós dois. As horas tão passando e logo vai chegar a hora, mas agora a gente fica em silêncio, lado a lado, enquanto finge – só finge – que ainda tem um jeito de dar certo. Eu quero fechar os olhos (você pode fechar também se quiser) e tentar lembrar de tudo o que a gente sonhava em viver quando queria ficar junto pra sempre. E aí, antes de ir, eu quero lembrar da sensação. De como eu me sentia amando você.
Eu preciso disso pra não te odiar – e pra não me odiar também por ter te perdido. Eu preciso disso pra ir embora em paz e poder seguir meu caminho e te deixar seguir o seu. Só uns cinco minutos, só pra lembrar o porquê a gente queria tanto ficar junto. Porque tinha um motivo, não tinha? E se a gente deitasse aqui e tentasse lembrar?
E se esse fosse meu último pedido pra você? Você deitaria aqui e apenas esqueceria que acabou?