Por trás de uma canção há sempre tanta coisa a ser ouvida. Por trás de uma poesia há sempre muita coisa a ser dita. Por trás de cada gesto desdobram-se inúmeros outros gestos e ações. E por trás destas minhas palavras há uma leva infinita de sentimentos e sentidos que não sei nomear. Aquilo que não tem nome talvez não tenha tempo, e por consequência pode durar uma eternidade. Esta eternidade que não te tenho.
Por trás de mim há um eu-sem-você. E por trás de você há um eu-com-saudade. Outra vez me despedi. E a sensação que fica é que em cada despedida as coisas se partem ainda mais, porque a vontade é de não partir, mas correr para o mais de-dentro do seu abraço e ali fazer moradia. Você não sabe quantas coisas boas eu deixei contigo, sem perceber, nos nossos abraços, nossos beijos, nossos olhares; você não sabe quanta coisa eu faria por um sorriso seu, aquele do canto da boca que você consegue dar com sutileza e graça, como que tímido com o que eu acabara de dizer, como que travado, sem palavras, quando eu digo ou faço algo que te desconcerta completamente. E é nesse momento que você fica ainda mais lindo, completamente natural, sem as máscaras que aprendemos a vestir com a vida, ainda mais humano: você puro, você menino, você tão momentaneamente meu.
Por trás da distância que nos separa há um pensamento sempre presente em você, que me leva ao futuro onde quero estar. Por trás do sol que se põe há, certamente, na próxima alvorada, a esperança renascida em força de poder te tocar mais uma vez. Por trás da liquidez humana e de suas fragilidades, que nega todos os sentimentos existentes, há um grito de amor. De que vivemos senão de paixões? Então que se grite mais, que se fale abertamente do amor, daquele frio na barriga quando penso em você, daquela dor forte quando te desejo comigo, e, por algum motivo, não o tenho; que se sinta mais vezes aquele abraço acolhedor e desesperado que senti quando me reencontrou te esperando naquela fila, e, sem nenhuma preocupação ou impedimento, correu em minha direção para que eu nunca mais pudesse escapar do teu toque, do teu calor, de você. O tempo se eternizou naquele abraço.
Por trás de todos os momentos estados contigo há o instante final, em que do meu pescoço tirei o cordão de âncora para ancorar no teu pescoço, perto do teu peito, para que eu pudesse estar com você fisicamente por onde andar e para que nunca, nunquinha mesmo, esqueça que em algum lugar nesta grande terra há uma pessoa que te deseja um bem enorme, e mais que isso: te guarda quente e forte no peito. Venha sempre que puder, que quiser, que precisar, que sentir saudade, que quiser rir de coisas sem graça, que sentir necessidade de um abraço sufocante, vem que te escuto, que te brigo, que te abrigo, que te faço um cafuné, que te mordo, que cuido, que mimo, que tenho, que te amo e que te fim.