São 3 horas da manhã e essa é só mais uma noite que não consigo dormir por ficar tentando decifrar o que se passa pela sua cabeça quando estamos juntos. Talvez eu não seja tão boa nesses joguinhos que as pessoas costumam te incluir como participante, mesmo que você não queira. Pode ser também que eu só não seja tão boa em matéria de você.
Talvez, por esse motivo, eu estou aqui há horas tentando me convencer que hoje foi a última vez que eu tentei entender o que se passa aí dentro. Talvez seja hora de recolher a poeira que você deixou para trás aqui dentro e só esquecer. Só esquecer do que nunca nem chegamos efetivamente a ser.
Não sei se te mando alguma mensagem de voz daquelas que ficam bem longas e eu peço desculpas no final por estar com medo de ser inconveniente, ou se essa vontade de te colocar contra a parede e arrancar suas verdades seja só um efeito dessa terceira taça de vinho que estou tomando, mas, meu querido, eu cansei.
Eu cansei não só de você, não só do seu joguinho, não só de ficar sempre pisando em ovos e estar sempre a procura de qualquer sinal que seja nas suas respostas demoradas ou nas suas histórias de pessoa desencanada da vida. Eu cansei de sempre descobrir que eu estava errada em achar que poderia ter alguém sincero, que deixasse as coisas menos pesadas na minha vida e arrancasse meus sorrisos mais difíceis. E veja só: hoje você está sendo o meu peso nessa madrugada.
Cansei de descobrir que era só mais um babaca pelo meu caminho. Cansei de ter que ficar me convencendo que o problema não sou eu, que eu gosto de deixar as coisas claras e nem todo mundo tem essa facilidade. É horrível mesmo tentar colocar na minha cabeça que ainda vai aparecer alguém que vale a pena e que você só foi mais um achismo errado da minha parte. Cara, você tem alguma noção de como isso é um saco? Você tem noção de que minha terapeuta vai querer te matar por ter que me colocar no lugar de novo? E eu realmente cansei. Cansei.
Já são três e meia e a garrafa do tal vinho está acabando. Continuo olhando para a tela do celular e esperando que você finalmente caia em si e veja que vale a pena entrar no meu mar de complicações. Eu espero mais cinco minutinhos por qualquer sinal de vida e depois renomeio seu número como “perigo” para me proteger do seu teatrinho, dos seus beijos, das suas piadinhas com meu jeito atrapalhado, dos seus “a gente se vê nesse final de semana?” e tento me convencer que o bom da vida é não esperar nada de ninguém.
Mais cinco minutinhos. Só mais alguns minutinhos. Porque eu cansei. E já estava cansada desde antes, mas ainda tem alguma coisinha aqui dentro, uma coisinha idiota que insiste em te dar esses cinco minutos e me fazer acreditar naquela coisa de reciprocidade.
Só cinco.