Estou cheia, empanzinada, agoniada. Tem excesso demais por todos os lados e eu me permiti absorver esses exageros como se não houvesse amanhã – e, de fato, o amanhã mesmo nunca chega. O coração acelera todas as vezes que me sinto cheia. Suspiro. Reviro os olhos. Sorrio. A verdade é que me enchi de você.
Eu me enchi de você cada vez que liguei o rádio e tocava aquela tua música favorita. Eu me enchi de você no refrão melancólico, cantado aos quatros ventos, enquanto riscava o asfalto sem ter algum lugar para ir. Eu me enchi de você quando troquei a estação e a música continuava sendo tua. Outras melodias, mesmas lembranças. Eu me enchi de você.
Eu me enchi de você quando um sorriso deixou de fazer sentido. Eu vi as entrelinhas em cada emoji enviado, que ninguém mais entende. Estou de cabeça para baixo e cheia de você. Sorrindo bobo, sorrindo mais.
Eu me enchi de você em cada fim de tarde que colore a cidade com a cor do riso teu. Nesses dias, eu costumo ficar sentada em frente ao mar, me enchendo de você cada vez que as ondas lambem a areia, trazendo na boca o gosto do beijo que roubei.
Eu me enchi de você naquele gole de café, propositalmente requentado. Preparei-o naquelas cafeteiras italianas e deixei esfriar de propósito, só para sentir o cheiro dele, requentado, direto do microondas. O cheiro inundou a casa e eu me inundei de ti.
Eu me enchi de você debaixo da ducha quente. O vapor se misturou com o perfume do teu shampoo preferido e eu me misturei na lembrança tua. Na lembrança nossa. E transbordei você, todinho.
Eu me enchi de você. E ainda cabe tão mais de ti aqui dentro…