A primeira vez que o vi não sendo foi como não o ver, mas o via. E o ver assim, branco, na forma dele mesmo, mas internamente outro, era de igual modo apaixonante. Ele me recebera com sorriso no rosto e um abraço apertado, juntamente com uma paz e amor que emanava de outra atmosfera, talvez do mais recôndito de sua alma. Durante algum tempo aquele menino permaneceu ali com sua alegria e serenidade, contaminando a todos em sua volta, com seu brilho estrelar. Depois partiu, sem muito dizer. A ausência de palavras era uma prévia de um futuro próximo que levaria para longe aquele outro menino, em silêncio. Agora, não o via mais, ele-mesmo e ele-outro. O que não mudara era a paixão que marcada em mim estava. Eu precisei ir embora, por todos os motivos (in)existentes; mas o levei comigo. Quando se está com alguém, mesmo que por um segundo, esta pessoa ou tempo se eternizam para além do tempo. É eterno o seu sorriso grande; é eterno seu abraço; é eterno seu traço, tela, pena; é eterno sua voz e ensinamentos; é igualmente eterno sua falta de jeito com o afeto. E era exatamente nessas nuances que eu estava contigo, como estou agora, e sempre estarei, mesmo que não veja, apenas sinta.
É de uma maneira estranha que a gente se encontra inúmeras vezes; e é de uma forma diferente que a gente se reconhece e se quer todas essas vezes, porque é de um modo totalmente especial que eu te desejo, e desejo forte e bem e tanto e meu. É dessa forma, nossa, que nos temos e vivemos; é só dessa forma que somos. Eu não saberia mais ser sem você, porque implicaria em não ser mais eu. Parece mentiroso dito deste jeito, mas é o único jeito que talvez eu verdadeiramente me encaixe: nessa mentira que é viver sendo soma dos outros; ou nessa verdade que é viver sendo passado em presente. Penso que esse meu presente é o que fui ontem, e ontem eu fui, também, você; ontem eu tinha medo do que desconhecia, e ainda tenho, mas aprendi a confiar; ontem eu não tinha fé, e você a desenvolveu em mim, como quem planta uma semente e a árvore nasce anos depois; exatamente assim nasceu essa árvore que em seu tronco tem sua marca, marca de quem nunca desistiu de apontar o lado bonito da vida; marca da insistência na escrita – e se escrevo é para ti, e não me nota; marca do seu toque; marca da sua força, que não foi a minha força; marca da sua paciência, que não foi a minha paciência, que, então me fez ir embora, te reencontrando anos depois, tão diferente, talvez até mais bonito, mais alto, mais barbudo.
Desencontros: você não me reconhecia mais, eu não te via mais. Você não aceitara o meu tempo, o meu caminho; e eu não te entendia; não compreendia sua não aceitação do que era amor. Era verdade; algumas coisas se perdem e não voltam mais ao seu estado natural, voltam diferentes, ou não nunca voltam…