Sobre paixões, brilho e gente que nunca fica


O outro chega. Sua presença é brilhante. Seu sorriso é aberto. Ele fala de lugares novos, traz consigo os ares de experiências tantas, o pó e o aroma de outras estradas. Tem um jeito gostoso.

Traz o doce, o amargo, o salgado e espalha tudo num banquete. Seu toque chega acordando partes em você, até que se sente desperta e também brilhante.

Encontrar alguém assim faz acordar coisa boa. Primeiro: “que bom que existem pessoas assim”. Depois: “que bom que existe você”. E ainda depois: “você faz eu me sentir assim”. Sua entrada fez tudo ficar mais vivo e colorido. Sua entrada liberou fluxos.

Tudo tão intenso. Tudo tão simples. Tudo despertando o melhor. Você se surpreende ao respirar e ver brilho de novo.

E o outro vai. Viver seus vôos e tudo aquilo que o faz ser tão brilhante, que faz com que seu toque desperte vida.

Você fica. Fica à espera que ele volte e traga os ares de seus vôos. Na ansiosa espera, pode ser que você se esqueça de algo elementar. Colorir, você mesma, os cantos que andam cinza. Sua energia se condiciona àquele toque. Deixa de observar o simples: o toque foi ao interruptor. O interruptor sempre esteve ali. Ao alcance de suas mãos também.

Surge o medo de que o vôo dele demore tanto, que não venha abastecer o seu brilho aqui. O diferente que lhe encantava, agora parece tão diferente que você pensa que no quão rara é toda essa experiência. E o medo faz pensar em gaiola.

Tensão. Espera pelo tal contato para voltar a respirar. Mas moça esperta, note bem, se o que você quer é respirar… Pois respire. Solte. Olhe amplo. Respire amplo. Note, moça, o quanto as ondas se asserenam. Note que se aquele contato despertaria sua energia, é porque essa energia está aí. Acenda sua lareira.

Melhor que presenciar alguém que sente o vento no rosto, é você voar e sentir por si mesma. Ao invés de prender na gaiola, voar também. Ao invés de esperar que o colorido lhe seja dado, escolher as cores e iniciar a brincadeira. Ao invés de esperar que ele venha trazer o gozo, vá em direção ao gozo. Desafie-se a novas jornadas e sorria por dentro, cúmplice. “Que delícia embarcar, que delícia ser você”.

Aprenda a encontrar sua energia, sem motivo. Você não precisa de motivos. Você precisa se conectar com o fazer brilhar. Ou só deixar brilhar.

E depois de voar, acessar o próprio brilho, encarar as próprias perturbações e dizer “eu banco”, estar presente, se encantar com a estrada, se encantar com o silêncio, desfrutar dos pequenos prazeres, tocar o tambor do coração das maneiras mais estranhas, novas e lindas, se apaixonar pela beleza de quem você é e da vida que você leva. Depois de sentir-se inteira e completa no próprio florescer. Depois de entender que o brilho já existe. Que o copo já está cheio. Ah, que haja encontro! Que o copo transborde, que o brilho de um se compraza com o brilho do outro, encontro de duas pessoas inteiras. Chama que fica ainda mais alta. Livre.

Entenda: não é questão de deixar o outro livre. Ele já é. Liberte-se você. Solte-se da gaiola que você criou. Seja sua versão mais linda e selvagem. Seja livre. Você já é.

Comentários