Fala que ela é meu sonho bom


[Você pode ler este texto ao som de High Hopes]

Ouvi dizer por aí que você desatou a gente e que meu olhar tem um quê de saudade.  Dizem por aí que a minha alma sangra por você em uns textos que eu escrevo e que eu nem sinto, mas que todo verso e toda prosa carregam um pedaço de você. Dizem por aí que eu tenho dessa paranoia meio estranha de querer encaixar você em tudo, de não me desligar de você um minuto sequer e ficar olhando em volta, procurando por entre as esquinas e as avenidas movimentadas pra ver se eu te encontro na janela de um ônibus ou na descida do metrô e corro, corro tanto que nem me preocupo com a voz ofegante e o rosto avermelhado e te digo quê. Dizem, e eles têm toda razão.

Você manda uma mensagem e muda a história de um dia que tinha tudo pra fazer parte dessa minha rotina fracassada enrustida no calendário. Não escondo o imediatismo, a pressa engolindo as sílabas antes que você mude de ideia e vá embora. Eu sou de lua, moça. Você conhece bem o meu jeito meio imaturo de gostar de você. Essa coisa de não ligar pro orgulho, porque se eu me agarrar nele, como é que eu vou me agarrar em você? Você diz que sente falta e se lembrou de mim. Finjo que sei, que acredito, que aprendi a encarar essa distância toda que separa nós dois. Só que é ainda nas coisas que eu sinto por você que eu tenho me agarrado pra me sentir um pouco mais feliz.

Você passa por mim e finge que eu não existo. Por que é que a gente sempre precisa transformar o outro em desconhecido depois da despedida? O nosso problema é que com a gente nunca teve despedida, meu bem. A gente sempre deixa essa ponta com nó por atar pra não precisar desatar nós dois. A gente só não admite isso. A gente redesenha a história toda de nós dois em uns rostos desconhecidos pra ver se encontra outro norte. Só que norte de verdade na vida a gente só encontra um, o resto é tentativa desesperada de fuga pela tangente – ou pelo sul.

Ouvi dizer por aí que você desatou a gente e que meu olhar tem um quê de saudade.  Tem, meu bem, e minha alma sangra por você em uns textos que eu escrevo por ai. Porque eu te escrevo e reescrevo nas histórias de Sparks e John Green em uma vitrine qualquer, e grito aos quatro ventos por aí que eu sou de lua e que minhas estrelas todas são você. É que você sabe. Eu sei. A gente tem dessa coisa de nunca desatar os nós, de sempre bater a porta antes da despedida quando a gente sabe que é o fim, só pra ter um motivo pra voltar. De deixar o barbante todo que carrega a nossa história com a ponta em aberto, desfiando-se em uns finais alternativos pra ver se em algum deles a gente se esquece de vez ou se entrega de uma vez por todas.

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