Um dia eu esqueço você


[Você pode ler este texto ao som de Cigarettes & Chocolate]

Hoje eu esbarrei com você enquanto atravessava uma avenida movimentada em passos acelerados, mas não foi igual aos outros esbarrões. Não foi igual ao dia em que eu te busquei no terminal cinco e você veio correndo pra gente se abraçar no saguão alinhando de uma vez por todas as nossas órbitas. Não foi igual ao dia em que você fez check-in umas quadras perto da minha casa e eu corri, corri tanto que nem me preocupei com a cara de sono e o olhar marcado pelas olheiras, porque eu só pensava na possibilidade de encontrar você. Hoje eu esbarrei com você quando tocou a tua música no shuffle do meu iPod e eu reparei na falta gigante que eu sinto de você.

Me bateu coisa estranha no peito, uma angústia nada bonita pela saudade de quando você ligava de madrugada pra contar as coisas do teu dia. Porque você levava a coisa toda com uma paixão que te denunciava pelo brilho na retina dos olhos, do mesmo jeito que eu queria que você tivesse me levado. E eu senti uma bala perfurar o meu peito quando eu abri a nossa última conversa na esperança de encontrar uma resposta que nunca veio. Porque a indiferença atinge feito bala, é a mais dolorida das respostas porque a pessoa já não sente mais raiva, já não sente mais mágoa, já não sente mais nada pela gente.

Engano. Morri outra vez naquelas cento e quarenta caracteres em que você falava de nós dois. A gente sempre acha que superou a pessoa até descobrir que ela não superou a gente. Porque quando a ficha cai, quando dá o estalo, quando descobrimos isso, a gente relembra a coisa toda dentro do peito. Os recortes, os abraços, os domingos de mãos dadas em uma praça qualquer e a raiva, a maldita raiva que fez você não me levar contigo. Porque tua vida não tá as mil maravilhas que eu queria que estivesse; não é só sorrisos feito aqueles da legenda da tua última foto no Instagram; não é coisa nenhuma que me dê motivos pra colocar uma pedra na gente de uma vez por todas.

Faz tempo, meu bem, quase um ano desde que você foi embora e não me levou contigo. E eu juro, juro de pé junto pra Deus e pra mim mesmo que eu pensei que tivesse superado você. Que eu já não sentia incômodo nenhum quando você falava de outros e que eu até tinha me encontrado, sabe? Até que eu esbarrei com você mais cedo e colidi com aquilo o que a gente foi. Abri nossa última conversa, engoli a seco o teu discurso limitado de nós dois e prometi pra mim mesmo que amanhã ou depois eu te supero e te esqueço de uma vez por todas. Mas só quando eu tiver certeza que você superou também.

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