[Você pode ler este texto ao som de Pra Sonhar]
Parece que eu não vou aguentar. Que vou desistir da sua calma porque a minha pressa é sorrateira. ‘’Se é pra ser vai ser’’, você me diz com o guarda-chuva nas mãos, em meio a minha tempestade. Como se o próximo filme na Netflix fosse mais importante do que a minha insegurança, como se as luzes do teu apartamento me inundassem os pés descalços de certeza enquanto você insiste em me fazer calçar os chinelos.
Os domingos à noite já não têm gosto de sobras, eles têm o sabor do frango xadrez que você aprendeu no programa de culinária. Os dias já não me soam mais como a rotina programada da minha semana cheia de tarefas. O que passou realmente ficou no passado. E a tua testa franzida quando eu falo qualquer coisa de forma irônica, ratifica a saudade que ainda não chegou, mas já está a caminho.
Adoro o teu vício por queijo com goiabada, adoro a forma como o teu sorriso fico exposto quando tu ri com todos os dentes, adoro o jeito que ficar ranzinza quando tento me aninhar nos teus cabelos, adoro as todas as parafernálias que tu faz antes de dormir com tapa olhos e ouvidos, e mesmo assim não é suficiente para o teu corpo ficar longe do meu, e teu braço transpassando meu abraço, enquanto descansa sobre o meu coração.
‘’Gosta de mim um pouquinho’’ me indaga, deitado sobre o meu peito pra ter certeza que ali bate um coração e não é só uma pedra fria e sem cor. Não sei se é medo de perder, mas eu garanto que me encontrei naqueles olhos. Entendo que gostar demais é exagero, e gostar por gostar, apenas, é indiferente. Compreendi que de pouco em pouco a gente não tem muito, mas o suficiente pra nós dois. E se não há borboletas no meu estômago é porque elas certamente estão sentadas na janela de vidro da tua sala, enquanto nos observam enganar a eternidade do tempo atirados no sofá sem o menor esforço.
Já decorei a tua paixão por moveis e arquitetura. Deixei um bilhete sobre o balcão da cozinha agradecendo o jantar e a noite incríveis, e saí sem fazer barulho para que pudesse voltar pela mesma porta que eu entrei sem muito alarde ou gritaria. Sei que pode ser que não seja, que eu enjoe ou desista na metade do caminho, que tu perca o tesão por mim. Que eu seja promovido para a índia e tu para o Canadá. A gente talvez não conclua o que começou e vá se falando por mensagem até que o sentimento fique mudo, surdo e cego.
Por hora, posso te dizer que não desistiria de ser teu namorado, de dormir na tua cama ou tomar banho no teu banheiro, a menos que tu jogue a toalha. Que diga com letras garrafais na minha testa ‘’eu não me apaixonei’’e que a nossa ligação foi engano até agora. A menos que me diga que não quer mais, eu vou continuar te querendo um pouquinho, cada dia mais.