– Eu esqueci de te dizer que nunca ia conseguir ser sua amiga.
(…)
– Você me stalkeou?
– Eu vi seus vídeos todos.
– E nem deu like?
– Você não podia saber.
– Espertinha.
– Eu sou! E você, me stalkeou?
– Não. Eu gosto de ir conhecendo aos poucos. Você é uma surpresa pra mim.
Lembrou do dia que ela começou a conversa citando Carmen de Bizet e terminou dançando Ludmilla. Aquilo foi genial. As pessoas perdem tanto tempo inventando rótulos e tentando se encaixar em lacunas pré-estabelecidas que esquecem de deixar o corpo iniciar seu próprio passo. Amar é como dançar inutilmente numa avenida fechada para carros num fim de semana qualquer: você não sabe exatamente onde vai parar mas insiste mesmo assim porque em algum determinado momento seu corpo vai alcançar um ritmo.
– Eu gosto que você não me elogia.
– Por quê?
– Meu ex falava tudo. O tempo todo. Falava tanto que as palavras já tinham vida própria, personalidade… elas saíam por aí andando de escada rolante ou pegando carona em rabeiras de caminhão porque a vida é muito curta pra ficar esperando na fila do bilhete único
– Ele mentia?
– Acho que não, ele não sabia, ele só falava demais. as palavras ganhavam vida e ele acabava acreditando nelas.
– Vítima das próprias palavras?
– Já conheceu alguém assim?
– Acho que não.
– Deve ter um meio termo. Uma maneira onde você possa falar as coisas, mas que elas sejam verdadeiras.
– E se não tiver?
– E se não tiver o quê?
– E se não tiver o meio termo! Tem dois caras: o que fala demais e o que não diz nada. Qual você escolhe?
– O que fala demais.
– você não hesitou nem por um segundo.
– Não.
– Mas às vezes ele diz mentiras.
– Sim.
– E por que você escolheu ele?
– Nenhum dos dois me faz feliz, mas pelo menos o que mente sacia meu ego um pouco.
– Então tudo isso é para receber um elogio, gata?
– Hahaha. E você?
– Eu o quê?
– Entre estar com alguém que fala demais e o que não diz nada, qual você escolhe?
– Entre alguém que fala demais e alguém que não diz nada, eu escolho você.