[Você pode ler este texto ao som de Me Adora]
Não sei dizer o momento exato em que nos perdemos um do outro, mas aconteceu. Aconteceu um pouco por dia, enquanto caminhávamos sem as mãos dadas, a cada vez que esquecemos de escolher palavras mais doces, e todos os dias que relaxamos com nossa aparência.
Aconteceu enquanto não fizemos planos e a rotina tratou de engolir o romantismo e a vontade de estar perto. Aconteceu enquanto o tempo passou e a gente esperou sentado sem fazer nada de útil, sexy ou divertido dele.
A cada boa noite sem cafuné, em cada bom dia que não trocamos juntos. Em cada pedaço da casa que tinha você e eu não estava (e vice e versa). Em cada gozo perdido, em cada noite de amor não aproveitada. Aconteceu durante nossa falta de toque, de olhar, de beijo.
Morreu aos poucos a cada vez que não fomos no cinema, no motel, no bar ou até mesmo naquele cruzeiro que nunca deixou o papel. Estrangulou-se com as rédeas da comodidade, usou todo o abismo que criamos entre nós mesmos enquanto sentados no sofá.
Nosso silêncio foi ficando cômodo e agradavelmente solitário. O que antes incomodava deixou de fazer diferença e o que era saudade, se transformou em tanto faz. Minha úlcera sarou sem diálogo, meu coração se colou sem aquele pedaço que tinha seu nome.
Eu não sei dizer ao certo quando aconteceu, mas cegos fomos ambos em não perceber que o amor aos poucos foi embora e agora, ao fechar os olhos, só sobrou carinho. Como se aquele amor intenso e cheio de paixão fosse algo agora distante, registrado apenas em fotos e memórias que já não cabem no que temos hoje. Como se tivéssemos envelhecido rápido, cansado rápido, morrido aos poucos um dentro do outro.
A vida, esse conjunto de escolhas diárias que fazemos, me fez duvidar. Agora já não sei se quero ficar. Porque agora sobra tanta falta…Falta tanta coisa que dói só de lembrar. Não me leve a mal: fomos muito felizes. Temos muitas flores, fotos e uma história incrível pra contar. Talvez alguns até me chamem de louca, achando que o nome disso é desistir. Mal sabem eles que trata-se do contrário: da certeza de ter tentado.
Nós demos muito certo. Tanto que de agora em diante continuaremos com o que sempre tivemos: carinho, respeito, compreensão e amizade. Só vai faltar amor, já que esse morreu aos poucos e a culpa é nossa de não termos percebido a tempo.