Me bateu um sentimento gigante de impotência hoje mais cedo quando eu despenquei com a cabeça no travesseiro, que você pediria pra eu deixar pra lá, que você dá um jeito de conviver com o teu céu que anda cinza. Mas é que eu sinto uma mão pressionando o meu peito por ver você desse jeito e não poder fazer nada. A respiração pesa, porque não existe sentimento pior do que ver quem a gente quer bem não tão bem assim.
Tô te escrevendo porque senti isso mais cedo quando você me falou que existem coisas que te machucaram. E entendo o teu jeito meio tímido de guardar tudo pra si, e é por isso mesmo que eu não tô aqui pra entender qualquer coisa, meu bem, tô aqui pra te ajudar a carregar esse peso nas costas. Repara nas minhas cicatrizes, nas minhas marcas de guerra. Eu sei bem como é traçar uma estratégia pra encarar a gente mesmo em uma guerra em que não queremos lutar. Essa luta pessoal de mandar embora aquilo o que corrompe ou o que nos faz mal é a pior coisa que existe, porque a gente não tem muito o que fazer se não rezar de pé junto diante da cruz implorando pedindo berrando pra ir embora. E eu não sei o peso do mundo que desabou nas suas costas, o tamanho da trincheira explosiva que tem sido teu abrigo – mesmo que vulnerável -, mas em meio a coisa toda, fui atingido pelos estilhaços de bomba. Me feri pra caramba também, porque sempre foi assim: você chora e eu desmonto.
Percebe que eu escrevo isso tentando te explicar o quanto eu te quero bem, o quanto você significa pra mim. O quão importante você é nesse processo de formação da pessoa que eu sou – porque acho que a gente aprende um pouco todos os dias até que chega a hora derradeira, e eu tenho aprendido pra caramba com você. Percebe que eu escrevo isso pra você não correr o risco de sentir sozinha no mundo – quando a gente se sente sozinho acabamos nos preenchendo de um vazio diferente, e nesses casos não tem volta, meu bem. Percebe que eu tô tentando te preencher nem que seja de esperança, nem que seja só uma faísca de qualquer coisa que te faça bem. Pra ver se você encontra um norte em meio a névoa toda. E tudo bem se você decidir ir pro sul, acredito que o norte mesmo vive dentro da gente. Só não anda de costas, não tenta reparar o último passo torto, porque atrasa a vida. Com passos tortos a gente chega lá e é feliz também. Aprendi isso contigo.