Agora que você entrou na minha vida


Fazia tempo que eu não me sentia bem assim, dividindo as minhas dores e as minhas angústias com alguém. A gente percebe que se sente bem quando a gente expõe nossas feridas pra alguém e o toque não arde. A gente sente o dedo passar pelo revelo e sente o pelo arrepiar, mas o contato não tortura. Quando a gente não tem medo de deixar as fraturas expostas porque isso não assusta o outro, não espanta, só ajuda a curar. É assim que eu me sinto quando eu tô com você.

Eu já ladrei tanto e já senti tantos estilhaços se chocarem contra a armadura que qualquer tratado de paz me parece estranho. São tantas cicatrizes e tantas marcas, meu bem, que eu me escondo na armadura pra me sentir mais forte. Mas quando eu tô com você a coisa toda guina, e eu deixo o escudo e a armadura de lado. Deixo de lado porque eu posso me libertar em você, posso te mostrar as minhas marcas de guerra todas e te peço pra passar o dedo e sentir. Você sente? Sente o relevo e a minha angústia ou sente calafrio? Sente a caminhada ou sente o fardo que sobrecarrega comigo? Você é diferente. Você não tentar me puxar do martírio, você segura na minha mão e sente tudo comigo; do que é bom ao que atormenta; do que é bonito ao que angústia. Segura na minha mão e a gente divide a angústia enquanto escreve sobre ela pra ver se forma poesia – você sempre me ajuda a ver o lado bom das coisas. Você me ensinou que a gente precisa encarar tudo, as marcas de guerra e as feridas profundas, pra uma hora tudo passar – porque quando a gente varre pra baixo do tapete a poeira hora ou outra levanta. E você me ajuda a encarar.

Sinto do teu lado um conforto diferente. Até o conforto incomoda às vezes, quando ele é preenchido pelo silêncio. Mas com você é diferente porque quando eu tô com você eu grito com os olhos que largaria tudo e encararia o mundo pra te encarar pra sempre; e eu nem preciso dizer nada. Quando eu tô com você eu deixo as outras coisas e as outras pessoas todas de lado porque nada mais é combatente, nada mais é inimigo – toda dose de amor pode desamar uma guerra. Quando eu tô com você eu não varro as minhas angústias pra debaixo do tapete nem espanto meus demônios pra dentro da toca, eu encaro tudo e encaro o mundo, e você encara comigo. Divido as dores e as angústias contigo; divido também a felicidade.

Deixo o escudo e a armadura de lado, porque fazia tempo que eu não me sentia bem assim, dividindo as minhas dores e as minhas angústias com alguém. A gente percebe que se sente bem quando a gente expõe nossas feridas pra alguém e o toque não arde. A gente sente o dedo passar pelo revelo e sente o pelo arrepiar, mas o contato não tortura. Te abraço forte e suplico por mais um momento com você. Cê chegou com a voz que me faz bem e com o colo que me afaga. Suplico por você e suplico por paz. Agora que cê entrou na minha vida, essa se tornou minha suplica: fica. Fica pra sempre.

hermann

 

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