[Você pode ler este texto ao som de A Bailarina e o Soldado de Chumbo]
Ele era um sonhador. Romântico incurável e ansioso assumido. Era soldado só no nome, sempre odiou brigas. Nunca soube o que fazer com o rifle que tinha nas mãos, gostava mesmo é de inventar romances e carregava todo o peso do mundo mas costas.
Ela era do tipo realista. Os pés sempre pisando forte no chão talvez fossem reflexo dos incontáveis anos estudando ballet, mas serviam de âncora para lembrar onde seu coração deveria ficar. Ser encantadora não bastava, ela sempre quis ser mais. A Bailarina queria ser tudo.
E conseguiu. Bastou o primeiro beijo entre os dois para ela se tornar tudo que o Soldado de Chumbo queria. Todo o empenho aprendido durante seu tempo fardado foi aplicado na missão de conquistar a jovem Bailarina. Uma ordem expressa do único superior a quem ele respondia: seu coração. Ela era o sonho de adolescente que ele insistia em levar pela vida adulta.
A Bailarina, também gostava de estar com ele. Sem maquiagem, sem personagem, sem sapatilhas. Ela já tinha datas e compromissos demais em cima do palco, não queria nada parecido fora dele. Foi educada para ser leve e o peso nunca lhe caiu bem.
Infelizmente, o Soldado de Chumbo não sabia fingir casualidade, é verdade que tentava, mas o que se pode fazer quando o sentimento perpassa a razão como um tiro de canhão? Ele focou, ela sufocou. Depois que fechou-se a cortina do relacionamento dos dois, a Bailarina foi para longe e não precisou de nada além de alguns drinks para voltar às condições normais pressão e temperatura. É que ensinam bem cedo nos palcos que, apesar dos pesares, o show tem que continuar.
A única coisa que permaneceu nele foi o sentimento por ela, e dizem que logo ele, que não nunca gostou de armas, tirou seu velho rifle do armário e anda por aí dando tiros pro alto, avisando aos quatro ventos posição, e torcendo pra um dia ela ouvir. Hoje, arrependido, o Soldado de Chumbo mudou tanto que nem sabe mais se ainda é realmente feito de chumbo.
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